domingo, 8 de julho de 2012

Inversão do Gibelinismo

O Barão Julius Evola

INVERSÃO DO GIBELINISMO - Considerações Finais
(Excertos)
Julius Evola
............................................................................................................................
(...) Parece que esta maçonaria se organizou de forma positiva no período dos rumores rosa-crucianos e da sucessiva partida dos verdadeiros Rosa-cruzes da Europa. Elias Ashmole, que parece ter desenvolvido um papel fundamental na organização da primeira maçonaria inglesa, viveu entre 1617 e 1692. Apesar disso, segundo a maioria, a maçonaria em sua forma atual de associação semi-secreta militante não remonta além de 1700(4) - em 1717 houve a inauguração da Grande Loja de Londres. Como antecedentes positivos, não apenas imaginados, a maçonaria teve sobretudo as tradições de determinadas corporações medievais, nas quais os elementos principais da arte de construir, de edificar, eram simultaneamente assumidos segundo um significado alegórico e iniciático. Assim, a "construção do Templo" poderia tornar-se sinônimo da própria "Grande Obra"^iniciática, o desbastamento da pedra bruta em pedra quadrada podia aludir ao dever preliminar de formação interna, e assim por diante. Pode-se pensar que até o começo do século XVIII a maçonaria conservou esses caráter iniciático e tradicional, de modo a, aludindo ao desempenho de uma ação interior, ter sido chamada de "operativa"(5). Foi em 1717 que, com a referida inauguração da Grande Loja de Londres e com o aparecimento da assim chamada "maçonaria especulativa" continental, verificou-se o suplantamento e a inversão de polaridades, de que falamos. Como "especulação", de fato valeu aqui a ideologia iluminista, enciclopedista e racionalista, junto com uma correspondente, desviada interpretação dos símbolos, e a atividade da organização concentrou-se decididamente no plano político-social, mesmo utilizando prevalentemente a tática da ação indireta e manobrando com influências e sugestões, cuja origem primeira era difícil determinar.

Pretende-se que essa transformação se tenha verificado somente em algumas lojas e que outras tenham conservado seu caráter iniciático e operativo mesmo depois de 1717. Efetivamente, esse caráter pode ser encontrado nos ambientes maçônicos a que pertenceram um Martinez de Pasqually, um Claude de St. Martin e o próprio Joseph de Maistre. Mas deve-se observar que também esta mesma maçonaria entrou, por outro motivo, numa fase de degenerescência, e nada pôde contra a afirmação da outra pela qual, acabou sendo assimilada. Tampouco houve qualquer ação da maçonaria que teria permanecido iniciática para protestar e desautorizar a outra, para condenar sua atividade político-social e para impedir que, em toda parte, ela tivesse validade própria e oficialmente como maçonaria.

Referindo-se, portanto, à maçonaria "especulativa", nela os vestígios iniciáticos permanecem limitados a uma estrutura ritual que, especialmente na maçonaria do rito escocês, teve caráter inorgânico e sincretístico, devido aos muitos graus além dos três primeiros (os únicos que têm alguma conexão efetiva com as precedentes tradições corporativas), tendo sido recolhidos símbolos das tradições iniciáticas mais variadas, visivelmente para dar a impressão de ter reunido a herança de todas elas. Assim, nesta maçonaria, também encontramos vários elementos da iniciação cavaleiresca, do hermetismo e da Rosa-cruz: nela aparecem "dignidades" como a de "Cavaleiro do Oriente ou da Espada", "Cavaleiro do Sol", "Cavaleiro das duas Águias", "Príncipe Adepto", "Dignitário do Sagrado Império", "Cavaleiro Kadosh (isto é, em hebraico, "Cavaleiro Sagrado"), equivalente a "Cavaleiro Templar", "Príncipe Rosa-cruz". Em geral - e este é o ponto que tem um significado todo especial - há uma ambição, particularmente por parte da maçonaria do rito escocês, de reportar-se justamente à tradição templar. Pretende-se, desta forma, que pelo menos sete de seus graus sejam de origem templária, além do 30º, que tem, explicitamente, a designação de "Cavaleiro Templar num grande número de lojas. Uma das jóias do grau supremo de toda a hierarquia (33º) - uma cruz teutônica - traz a sigla J.B.M., que é explicada, na maioria das vezes, com as iniciais de Jacopus Burgundus Molay, que foi ´último Grande Mestre da Ordem do Templo, e "De Molay" aparece também como uma "palavra de passe" desse gau, quase como se os que são iniciados nele fossem buscar de volta a dignidade e função do chefe da Ordem gibelina destruída. De resto, a maçonaria escocesa pretende ter muito de seus elementos transmitidos por uma organização mais antiga, chamada "Rito de Heredom". Esta expressão é traduzida por vários autores maçônicos por "ritos dos herdeiros", numa clara alusão aos herdeiros dos Templários. A lenda corresponde é que os poucos Templários sobreviventes ter-se-iam retirado para a Escócia, onde se colocaram sob a proteção de Robert Bruce e foram reunidos por este numa organização iniciática preexistente, de origem corporativa, que então assumiu o nome de "Grande Loja Real de Heredom".

É fácil perceber o alcance que essas   referências teriam em relação específica com aquilo que chamamos de "herança do Graal", caso elas tivessem um fundamento real: forneceriam à maçonaria um título de ortodoxia tradicional. Mas, na realidade, as coisas são muito diferentes.

Trata-se aqui de uma usurpação, não de uma continuação; antes com isso constata-se uma inversão da tradição precedente. Isso resulta de maneira característica considerando em seu complexo exatamente o mencionado grau 30º do rito escocês, que em algumas lojas tem como palavra de ordem: "A revanche dos Templários". A "lenda" que se refere a isso retoma o motivo mencionado anteriormente: os Templários que teriam encontrado refúgio em determinadas organizações secretas inglesas, criaram nelas este grau com a intenção de reorganizar Ordem e cumprir assim a sua vingança. Ora, a inversão já explicada do gibelinismo não poderia encontrar uma expressão mais clara do que nesta explicação do ritual: "A vingança dos templários abateu-se sobre Clemente V não no dia em que seus ossos foram atirados ao fogo pelos Calvinistas da Provença, mas sim no dia em que Lutero levantou metade da Europa contra o Papado em nome dos direitos da consciência. E a vingança abateu-se sobre Felipe o Belo, não no dia em que seus restos foram atirados entre os destroços de São Dionísio por uma turba em delírio, e nem mesmo no dia em que o último descendente revestido do poder absoluto saiu do Templo, que se transformara em prisão de Estado, para subir ao patíbulo, mas, sim no dia em que a Constituinte francesa proclamou diante dos tronos os direitos do homem e do cidadão"(6). O fato de o nível do plano do indivíduo - o "homem" e o "cidadão" - acabar descendo até as massas anônimas e dos seus dirigentes mascarados, resulta de uma história relacionada com o ritual de vários graus - no Rito Escocês do Supremo Conselho da Alemanha ela aprecia no 4º grau, chamado do "mestre secreto". Trata-se da história de Hiram, o construtor do Templo de Jerusalém que, diante de rei sacral Salomão demonstra ter sobre as massas um poder tão prodigioso que "o rei, famoso por seu um dos maiores Sábios, descobriu que, além da sua, havia uma força maior, uma força que no futuro descobrirá o próprio vigor, exercerá uma soberania maior do que a sua (de Salomão). Essa força é o povo (das Volk)". E acrescenta-se: "Nos, maçons do rito escocês, vemos em Hiram a personificação da Humanidade". O rito, tornando-os "Mestres secretos" deveria proporcionar aos iniciantes maçons a mesma natureza de Hiram: isto é, deveria troná-los partícipes desse misterioso poder de mover a humanidade como povo, como massa, poder que abalaria o próprio poder do rei sacral simbólico.

Quanto a ao grau especificamente templar (30º), deve-se observar ainda em seu rito de confirmação a associação do elemento iniciático com o elemento subversivo antitradicional, o que dará necessariamente ao primeiro o caráter de uma efetiva contra-iniciação nos casos em que o próprio rito não se reduz a uma cerimônia vazia, mas coloque em movimento forças sutis. No grau em questão, o iniciado que derruba as colunas do Templo e pisoteia a cruz, sendo admitido, depois disso, ao Mistério da escada ascendente e descendente com sete degraus, é aquele que deve jurar vingança e concretizar ritualmente tal juramento golpeando com um punhal a Coroa e a Tiara, isto é, os símbolos do duplo poder tradicional, da autoridade real e da pontifícia, exprimindo com isso nada mais do que o sentido de quanto a maçonaria, como força oculta da subversão  mundial, propiciou ao mundo moderno, partindo da preparação da revolução Francesa e da constituição da democracia americana e passando pelos movimentos de 1848, chegando até à Primeira  Guerra Mundial, à revolução turca, à revolução da Espanha e a outros acontecimentos análogos. Onde, no ciclo do Graal, como vimos, a realização iniciática é concebida de tal maneira que assume o empenho de fazer com que o rei ressurja, no rito agora indicado tem-se exatamente o oposto; há a contrafação de uma iniciação que está ligada com o juramento (às vezes com a fórmula: "Vitória ou morte") de atingir ou desestabilizar toda forma de autoridade superior.

De qualquer maneira, para os nossos objetivos, o lado essencial destas considerações é indicar o ponto em que a "herança do Graal" e de tradições iniciáticas análogas pára e onde, deixando de lado eventuais sobrevivências de nomes e símbolos, não se pode mais constatar nenhuma filiação legítima destas. No caso específico da maçonaria moderna, de um lado o seu confuso sincretismo, o caráter artificial da hierarquia da maioria de seus graus - caráter que aparece claramente mesmo a um profano -, a banalidade das exegeses correntes, moralistas, sociais e racionalistas aplicadas a vários elementos retomados, tendo em si um conteúdo efetivamente esotérico - tudo isso levaria a fazer ver nela um exemplo típico de organização pseudo-iniciática(7). Mas, considerando, por outro lado, a "direção da eficácia" da organização com referência aos elementos observados anteriormente e à sua atividade evolucionária, surge a sensação exata de se estar diante de uma força que, no que diz respeito ao espírito, age contra o espírito: uma força obscura, exatamente da anti-tradição e de contra-iniciação. E então é bem possível que os seus rituais sejam menos inofensivos do que se pode acreditar e que em muitos casos esses ritos, sem que se dêem conta os que deles participam, estabelecem justamente o contato com essa força, impossível de ser assimilada pela consciência comum.

Uma rápida referência. Na lenda do 32º grau do rito escocês ("Sublime Príncipe do real Segredo") muitas vezes é sabido pela organização e pela inspeção de forças (concebidas como reunidas em diferentes "acampamentos"), que, uma vez conquistada "Jerusalém", deverá ser construído ali o "Terceiro Templo"; Templo este que se identifica com o "Sagrado Império", como "Império do mundo". Discutiu-se longamente sobre os assim chamados "Protocolos dos Sábios de Sião", que contêm o mito de um plano detalhado de conspiração contra o mundo tradicional europeu. Falamos em "mito" entendendo com isso deixar em aberto a questão da veracidade ou da falsidade de um documento como este, muitas vezes aproveitado por um vulgar antissemitismo(8). O que permanece claro é que esse documento, como muitos outros semelhantes que aparecem em vários lugares, tem um valor sintomático, tendo em vista que as principais reviravoltas da história contemporânea que se verificaram depois de sua publicação apresentaram uma impressionante concordância com o plano nele descrito. Em geral, escritos do gênero refletem a obscura sensação da existência de uma "inteligência" diretora por trás dos fatos mais característicos da subversão moderna. Portanto, qualquer que seja a finalidade prática de sua divulgação ou, prescindindo do fato de serem inventados ou falsos, de como foram elaborados, esses escritos colheram "algo que está no ar", algo que a história vai aos poucos dando confirmação. Mas exatamente nos Protocolos vemos também o reaparecimento da ideia de um futuro império universal e de organizações que trabalham subterraneamente para o seu advento(9), porém numa contrafação que podemos dizer satânica, porque o que está efetivamente em primeiro plano é a destruição e o desenraizamento de tudo aquilo que é tradição, valores da personalidade e verdadeira espiritualidade. Esse pseudo-Império nada mais é que a suprema concretização da religião do homem mundanizado, que se tornou a extrema razão de si mesmo e que tem Deus como inimigo. Este é o tema com que parece conclui-se o spengleriano "decadência do ocidente" e a idade obscura - kali-yuga - da antiga tradição hindu.
.............................................................................................................................

NOTAS:
4) Cf. A. Pike, Morals and Dogmas of the ancient and accepted Scotch rite, Richmond, 2ª ed., 1927.

5) Deve-se observar que já em seu período operativo e iniciático contata-se, na maçonaria, certa usurpação, quando ela atribui a si própria a "Arte Real". A inicviação ligada às profissões, de fato, é a que corresponde  ao antigo Terceiro Estado (a casta hindu dos vayça), isto é, a camadas hierarquicamente inferiores à casta dos guerreiros, aos quais corresponde legitimamente a "Arte Real". Por outro lado, deve-se observar também que a ação revolucionária da maçonaria especulativa moderna é aquela que corroeu as civilizações do Segundo Estrado e preparou, com as democracias, o advento das civilizações do terceiro Estado. No que diz respeito ao primeiro ponto, mesmo do aspecto mais exterior, é impossível que não fique uma impressão de comicidade ao ver fotografias de reis ingleses que, como dignatários maçons, vestem o avental e outros indumentos característicos das corporações artesãs.

6) Rituale del XXX grado del supremo consiglio del belgio del rito scozzese antico ed accettato, Bruxelas, s.d., pp. 49, 50. Na ação dramática ritual (cf. p. 42) dá-se o aparecimento de Squin de Florian, que iria denunciar os Templários e que como justificativa, afirma o seguinte princípio: "A Igreja está acima da liberdade"; contra isso, o Mestre da loja afirma: "A liberdade está acima da Igreja". Evidentemente, a primiera porposição está correta, se se tratar da pretensa liberdade de um indivíduo qualquer, enquanto a segunda será verdadeira se se tratar de quem tenha a qualificação requerida para colocar-se além das inevitáveis limitações próprias de uma determinada forma histórica de autoridade espiritual.

7) Surpreende encontrar num autor, normalmente tão qualificado no que se refere a estudos tradicionais, como GUÉNON, a afirmação de que, juntamente com a Compagnonnage, a maçonaria seriam quase a única organização atualmente existente no Ocidente que, apesar de sua degeneração, "pode reivindicar uma origem tradicional autêntica e uma transmissão iniciática regular" (Aperçus zur l'initiation, Paris, 1946, pp. 40, 103). O diagnóstico correto da maçonaria como sincretismo pseudo-iniciático criado por forças subterrâneas de contra-iniciação, que pode ser formulada exatamente com base nas teorias de Guénon, acaba sendo por ele explicitamente desmentida (cf. ibid. p. 201). Como isso possa conciliar-se com o caráter de tradicionalidade que Guénon ao mesmo tempo reconhece ao catolicismo, inimigo mortal da maçonaria moderna, é algo que permanece sem explicação. Uma desfiguração deste tipo é perigosa, especialmente oferece armas preciosas para uma interessada polêmica católica. O fato da mistificação e do uso subversivo do Mistério, que se verificou por uma inversão nas correntes já mencionadas e precipuamente na maçonaria em época recente (onde antes não constituíra senão uma anomalia teratológica), serviu para uma extravagante tese do catolicismo militante: aquela segundo a qual toda a tradição iniciática, em todos os tempos, teria tido um caráter tenebroso, diabólico, anticristão e, em suas consequências, subversivo. Isto, naturalmente, é apenas uma brincadeira de mau gosto. Mas uma tese como esta não é, acaso, corroborada por quem, desconsideradamente, atribui um caráter de ortodoxia e de filiação regular iniciática à maçonaria?

Gostaríamos muito que o leitor não supusesse em nós nenhuma animosidade preconcebida com relação à maçonaria. Pessoalmente, tivemos relações amigáveis com altos expoentes desta seita, que se esforçaram por valorizar seus vestígios iniciáticos e tradicionais. Com base nisso, trabalharam também, por exemplo, Ragon, A. Reghini, O. Wirth. Sabemos também de lojas, como a Johannis Loge e outras, que se mantiveram separadas da atividade político-social, apresentando-se essencialmente como centros de estudos. Mas, pelo dever para com a verdade, não saberíamos modificar em nenhum ponto o quadro geral que traçamos da maçonaria moderna do ponto de vista histórico, em consideração à direção predominante, efetiva e comprovada de sua atuação.

8) Nos Protocolos dos sábios de Sião, as fileiras do complô estão supostamente nas mãos do hebraísmo, mas há também uma referência à maçonaria. Um outro ponto que, quanto à maçonaria, deve ser colocado em destaque, é que os elementos por ela tomados de empréstimo de tradições propriamente ocidentais passam quase para o segundo plano frente às hebraicas - a grande maioria das "lendas" como também quase todas as "palavras de passe" têm base hebraica. Este é um outro, ponto suspeito. De fato, mesmo no conjunto do hebraísmo pode-se observar um processo de degradação e de inversão que igualmente despertou forças de contra-iniciação ou de subversão antitradicional. Essas forças provavelmente tiveram na história secreta da maçonaria um papel que não pode ser deixado de lado.

9) De passagem, devemos observar que a obra revolucionária da maçonaria permanece essencialmente limitada à preparação e à consolidação da época do terceiro Estado (que deu lugar ao mundo do capitalismo, da democracia, da civilização e das sociedades burguesas). A última fase da subversão mundial, por corresponder ao advento do Quarto Estado, relaciona-se com outras forças que necessariamente vão além da maçonaria e do próprio judaísmo, mesmo que frequentemente tenham se utilizado das destruições propiciadas por ela e por ele. É significativo que as atuais vanguardas da época do Quarto Estado tenham escolhido o símbolo do pentagrama, a estrela de cinco pontas, como a estrela vermelha dos Sovietes. O antigo símbolo mágico do poder do homem como iniciado dominador sobrenatural - símbolo que viu a consagração da espada do Graal - torna-se, por inversão, símbolo da onipotência e da demonia do homem materializado e coletivizado no reino do Quarto Estado.




EVOLA, Julius. O Mistério do Graal. 1. ed. São Paulo: Pensamento, 1986. Transcrito das páginas 179, 180, 181, 182, 183, 187 e 188.

sábado, 7 de julho de 2012

William Morgan, Mártir da Luta anti-maçônica

William Morgan: Um dos Mártires da luta anti-maçônica.

Tendo rompido com a maçonaria, Morgan resolveu divulgar os segredos da infame Ordem. Foi julgado pela maçonaria, torturado por três dias e finalmente assassinado, em 1826. Seus restos mortais só foram localizados em 1881, sendo solenemente enterrados no Monumento erigido pela parcela esclarecida do Povo estadunidense, em 1882. 


Monumento a William Morgan, erguido em 1882 no Cemitério de Batavia (Estados Unidos).

Inscrição em uma das faces do pedestal.

terça-feira, 29 de maio de 2012

CARTA A UM MAÇOM (Trecho)

Elias Ashmole

Marcelo Ramos Motta

          O senhor sabe, é claro, que o Rito Antigo, ou melhor, a Grande Loja da Inglaterra, foi organizada ( e o Rito inteiro reformado ) por um certo Elias Ashmole, judeu, e Irmão da R.C. A R.C. (que só existe neste mundo com este nome desde que o grande iniciado que se ocultou sob o nome de "Cristian Rosenkreutz" começou o movimento que resultou na Renascença, na Reforma e nas revoluções Francesa e Americana ) é responsável pelo Mistério do Logos -- o Mistério do Cristo. É tarefa dela zelar para que este Mistério jamais seja perdido pela humanidade. Quando quer que, por erros humanos, por oscilações do karma terrestre, ou pelas leis do acaso, a transmissão da Palavra e do Sinal (isto é, a sucessão apostólica) é ameaçada, é a R.C., sob um de seus muitos véus (ela nunca usa abertamente o nome de R.C.!), através de um ou mais de seus Irmãos, que lembra a humanidade o significado espiritual da Encarnação; da promessa da Ressurreição; da Grande Obra, isto é: o estabelecimento do Reino de Deus sobre a Terra.
         A R.C. nunca interfere de forma alguma com a organização ou direção de ritos maçônicos; nem seus Adeptos, necessariamente, ingressam em tais ritos. Apenas, informação em quantidades suficientes é outorgada, e fontes de pesquisa são sugeridas ao exame dos maçons, para que o significado espiritual dos ritos seja reestabelecido pelos próprios maçons.
       A R.C. está abaixo do Abismo: a Grande Ordem que não tem nome é simbolizada pelo Olho no Triângulo, e este é o Collegium Summum, ou a S.S., da A.·.A.·.
        A A.·.A.·. é apenas uma das Fraternidades Iniciáticas, e abaixo do Abismo é das mais novas. Foi organizada em sua forma presente na primeira década deste século.
            Quanto à S.S., é a mesma para todas as fraternidades iniciáticas. Isto é fonte de surpresa, às vezes, para iniciados de graus mais baixos, pois, chegando a certas consecuções, verificam que Mestres que pareceram pregar doutrinas completamente opostas ( como, por exemplo, Maomé e Jonas ) estão sentados lado a lado no Areópago dos Adeptos.


Maçonaria: Tensões e Perguntas


Pastor James Anderson, Autor das famosas "Constituições".



J. Scott Horrell

A maçonaria constitui um enigma para o Povo Evangélico. Sendo a maior sociedade secreta do mundo, com cerca de seis milhões de membros atualmente, a maçonaria tem uma longa história entrelaçada com o Protestantismo – especialmente na Grã-Bretanha, na Europa, nos Estados Unidos (com 4 milhões de membros) e no Brasil [1]. Ao mesmo tempo, a fraternidade orgulha-se de contar com membros das elites do mundo, seja no passado [2] ou no presente: desde Voltaire, Mozart, Garibaldi e Goethe, até vários nobres da Europa - incluindo o rei da Suécia e a Rainha Elizabete II (Grande Patronesse da Loja Britânica) - além de catorze presidentes dos Estados Unidos (Johnson, Ford, Reagan etc.). George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, era um Grão-Mestre maçom, sendo considerado um dos adeptos mais fiéis de todas as treze colônias de sua época. Não é por acaso que a cédula do dólar americano, que tem o retrato de Washington, traz a pirâmide, o esquadro, a águia e outros símbolos maçônicos junto com as palavras NOVUS ORDO SECLORUM (sic, “nova ordem dos séculos”) [3]. O fato de que milhares de pastores e leigos evangélicos ao redor do mundo fazem parte das lojas maçônicas, e de que projetos filantrópicos de grande porte são administrados por eles [4] sugere que essa sociedade só oferece o bem, e até promulga valores e ensinos cristãos.
Por outro lado, conforme alguns estudiosos sustentam, a maçonaria, apesar de se autodenominar não religiosa, divulga uma filosofia essencialmente antiCristã. Subjacente à irmandade e aos esforços de caridade, existe um programa não manifesto advogando uma religião sincretista, negando a Pessoa Divina e a obra salvífica de Jesus Cristo, e mantendo elos sinistros com o ocultismo. A maçonaria foi rejeitada como antitética à Fé Cristã pelos Católicos Romanos [5] e pelas Igrejas Ortodoxas Oriental e Russa [6]. Mais recentemente, várias denominações protestantes estão reavaliando o envolvimento de seus membros na sociedade maçônica, chegando a conclusões surpreendentes:
A nosso ver, a obediência total a Cristo impede a adesão a qualquer organização, tal como o movimento maçônico, que parece requerer uma fidelidade integral a si mesma... Exige-se do iniciado que ele se entregue à maçonaria assim como o Cristão deve entregar-se somente a Cristo. (A Igreja da Escócia, 1965) [7]
[Este] relatório indica várias razões fundamentais para se questionar a compatibilidade da maçonaria com o Cristianismo. (A Igreja da Inglaterra, 1985) [8]
Mesmo na interpretação mais generosa das evidências, permanecem sérias questões para os Cristãos acerca da maçonaria... Existe um grande perigo de o Cristão que se torna maçom acabar comprometendo sua Fé Cristã ou sua fidelidade a Cristo, talvez sem perceber o que está fazendo. Consequentemente, nossa orientação ao povo metodista é que os metodistas não devem se tornar maçons. (A Igreja Metodista Britânica, 1985) [9]
Sentimos que existe um grande perigo de que o cristão maçom acabe comprometendo sua fidelidade a Jesus, talvez sem perceber o que está fazendo... A conclusão evidente a que chegamos em nossa pesquisa é que há uma incompatibilidade inerente entre a maçonaria e a Fé Cristã. (As Uniões Batistas da Escócia, Grã-Bretanha e Irlanda, 1987) [10]
Enquanto várias denominações da América do Norte já renunciaram a maçonaria [11] a maior igreja evangélica dos Estados Unidos, a Convenção Batista do Sul - que possui um alto índice de membros maçônicos – está em processo de pesquisa sobre essa questão, e sabe-se que teme que os resultados possam dividir a denominação. Fundadas ou não, tais preocupações das denominações tradicionais devem alertar o cristão, inclusive o cristão maçom, para o fato de que talvez existam elementos básicos da loja maçônica que são questionáveis. A maçonaria, portanto, levanta tensões e perguntas que nem sempre se resolvem facilmente.
No Congresso Maçônico Internacional de 1899, afirmou-se que a fraternidade assumiu o lugar central em todos os movimentos revolucionários do mundo no século XIX [12], inclusive no Brasil. Na maior parte da América Latina, conforme se vê nas histórias de Simon Bolívar, Carlos Alvear, San Martin e Francisco Miranda, a maçonaria e as sociedades semi-maçônicas forneciam as estruturas clandestinas para planejar e financiar as lutas revolucionárias pela independência.[13] Na história brasileira, apesar de ambiguidades sobre quando a verdadeira maçonaria começou, por volta de 1800 havia várias organizações com inspiração maçônica - como as Inconfidências Mineira, Carioca e Baiana - as quais contribuíram grandemente para a autonomia nacional. Mais tarde, com o domínio da maçonaria inglesa (ou Maçonaria Azul, advogando o monarquismo parlamentar) sobre a francesa (ou Maçonaria Vermelha, defendendo a democracia),[14] o próprio Imperador D. Pedro I foi iniciado e, logo, proclamado o Grão-Mestre da loja Grande Oriente do Brasil, em 1822. [15] Conforme o historiador maçônico Manoel Gomes (33°), tanto a libertação do Brasil do domínio português quanto a passagem da monarquia para a república “foram movimentos idealizados, preparados e tornados realidade” pelas lojas da maçonaria.[16] Entre seus membros ilustres, ele inclui Tiradentes, Castro Alves, Rui Barbosa, Marechal Deodoro da Fonseca, Marechal Floriano Peixoto, Duque de Caxias, Campos Sales e Padre Diogo Feijó. É interessante notar que, apesar da proibição papal, vários padres, bispos e cônegos faziam parte da maçonaria brasileira antiga, aparentemente como veículo de suas convicções políticas.[17]
O elo evangélico aparece mais tarde. Com sua filosofia de religião aberta (sendo, conforme certos estudiosos, anticatólica), a maçonaria brasileira facilitou, em alguns casos, a entrada de missionários evangélicos no país. Às vezes, a loja maçônica até os protegia da oposição da Igreja Católica.[18] Outras vezes, pelo menos no nível individual, a fraternidade maçônica ajudou a financiar a construção dos templos evangélicos. Por estas e outras razões, a maçonaria goza de alta aceitação em meio a certas denominações protestantes do Brasil, contando até com defensores entre os pastores nacionais.[19] O testemunho sincero do Pr. José Motta reflete uma experiência que não é incomum. Sendo convidado para requerer seu ingresso na maçonaria, o jovem pastor batista foi visitado por um respeitado advogado cristão:
... ele foi me dizendo que também era maçom e que muito se orgulhava de sê-lo, pois não via inconveniência para nós, crentes em Jesus; pelo contrário, as coisas se tornam mais fáceis para a penetração na sociedade como maçons e a nossa influência como crentes se torna mais acentuada e respeitada... [No dia em que o Pr. Motta, com 23 anos, declarou que queria entrar para a maçonaria:] Vi-me cercado por homens da alta sociedade, dentre eles médicos, generais de Exército, aposentados, professores, advogados e outros... Foram momentos agradáveis.
... Agora eu sou maçom. Inicia-se, assim, uma nova etapa na minha vida. Dediquei-me aos trabalhos. Fazia algumas palestras e nessas fazia menção da Bíblia... Louvado seja Deus! A nossa casa era o centro dos encontros. Visitas não faltavam. Famílias e maçons e outros amigos, inclusive de freiras, eram as constantes visitas. Na Loja, pela dedicação na área de assistência social e na educação de adultos, fui galgando os degraus... Sentia-me útil e sabia que, em tudo isso, Deus estava me projetando para o futuro, preparando-me para a Sua Obra.[20]
Tipicamente, os argumentos de maçons evangélicos são que a maçonaria: (1) é uma fraternidade benemérita e não religiosa; (2) gera respeito para a presença evangélica entre pessoas de alto gabarito; e (3) abre caminho para servir a Deus na sociedade em geral.
Nem todos os evangélicos no Brasil manifestam o mesmo entusiasmo. Algumas denominações são explícita ou implicitamente antimaçônicas. Em 1903, a Igreja Presbiteriana Independente formou-se sob a liderança de Eduardo Carlos Pereira, separando-se da Igreja Presbiteriana Sinodal (Presbiteriana do Brasil) principalmente devido à questão da loja. A Igreja Luterana Concórdia também se destaca por ser contra a maçonaria. De modo menos agressivo, a Igreja Batista Pioneira continua distinguindo-se dentro da Convenção Batista Brasileira, em parte devido a essa causa. Com poucas exceções, as denominações teologicamente mais conservadoras fundamentalistas, holiness (Metodista Livre e Wesleyana) e pentecostais (Assembleia de Deus; Igreja Quadrangular, com exceções) - posicionam-se contra a maçonaria, enquanto as igrejas evangélicas tradicionais permitem que seus membros afiliem-se às lojas.[21]
Hoje, apesar de ter uma história marcada pela fragmentação, o conjunto das ordens maçônicas do Brasil é uma das grandes potências mundiais da sociedade, consistindo na maior dos países latinos (europeus e americanos), com cerca de 150.000 membros.[22] O novo Palácio Maçônico de Brasília do Grande Oriente do Brasil - a ordem maçônica mais numerosa do país, possuindo por volta de 100.000 membros - foi inaugurado em dezembro de 1992. A cerimônia foi assistida por um grupo de maçons que incluía 120 parlamentares federais e Maurício Corrêa (Ministro da Justiça), o qual, por sua vez, representou o Presidente da República Itamar Franco (Fernando Collor também é maçom).[23] No ano 2000, a Conferência Internacional dos Grandes Soberanos Comendadores acontecerá no Brasil e, conforme a entrevista de Ano Zero com Venâncio Igrejas, o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Grau 33, “muitos acreditam que o Brasil será um dos países que sediará o advento de uma nova Consciência no século XXI”.[24] Através das Ordens DeMolay e Arco-Íris, dedicadas aos jovens, a influência da maçonaria no Brasil, ao contrário de em outras partes do mundo, parece cada vez mais forte.
Certamente, a presença maçônica está deixando sua marca nas igrejas evangélicas do país. O poder dos maçons na organização de certas denominações é tão marcante que, às vezes, na expressão frustrada de um líder nacional, “parece que há uma hierarquia [maçônica] por trás da hierarquia [denominacional]”. Fundados ou não, existem boatos entre jovens pastores de que, sem ser maçom, não se consegue subir nas estruturas eclesiásticas. Portanto, a questão da maçonaria na igreja evangélica é importante e urgente, acarretando consequências para o futuro que nem todos querem reconhecer - posicionando-se seja a favor ou contra.
Esta prolongada introdução leva-nos ao propósito do artigo: analisar a compatibilidade entre a filosofia maçônica e as afirmações centrais da fé evangélica. Não procuraremos julgar a irmandade maçônica em si, nem negar que há indivíduos nas lojas os quais desconhecem ou discordam dos ensinos em geral proferidos dentro das ordens. Responderemos às seguintes perguntas:
1. É possível ter um conhecimento definido sobre a filosofia maçônica? 
2. A maçonaria é uma religião? 
3. Qual é o lugar que a Bíblia ocupa? 
4. Quem é o Deus da maçonaria? 
5. Qual é o lugar de Jesus Cristo? 
6. Como alguém é salvo? 
7. Existem vínculos entre a maçonaria e as religiões ocultas? Na conclusão, faremos observações sobre o relacionamento entre o evangelismo e a maçonaria no Brasil.

1. É Possível Ter um Conhecimento Definido Sobre a Filosofia Maçônica?
Basicamente, os maçons apresentam três alegações defendendo sua posição de que o não maçom não sabe seus ensinos. Em primeiro lugar, como a confraria é uma sociedade secreta histórica e geograficamente variada em suas formas, o não maçom simplesmente não tem acesso ao conhecimento claro de seus rituais, símbolos e ensinos. Em segundo lugar, existe uma grande quantidade de livros que se projetam como representantes da verdadeira maçonaria, quando, de fato, em geral não são aceitos pelas lojas, ofuscando assim qualquer imagem distinta pelo público. Finalmente, de acordo com o escritor maçom Alphonse Cerza, não existe uma autoridade final na maçonaria: “Os anti-maçons têm dificuldades em entender que a maçonaria não possui uma 'voz oficial', e que a liberdade de pensamento e expressão é um dos princípios essenciais da Ordem”. [25]
Admitindo que a maçonaria não exalta um livro ou líder como autoridade absoluta e universal, ainda assim ninguém negaria que as ordens e lojas reconhecem autoridades - o que é comprovado pelo fato de que 90% da maçonaria mundial pertence ao Rito Escocês Antigo e Aceito, com seus Supremos Conselhos do 33° Grau. Na verdade, existem várias autoridades: (1) os Landmarks (25 fundamentos absolutos);[26] (2) a Constituição e os regulamentos gerais das ordens, determinados pelos Supremos Conselhos; (3) o Ritual em si - especialmente o da Loja Azul (os três passos básicos de todos os Mestres-Maçons de qualquer rito ou ordem);[27] (4) o Supremo Grande Comendador da Ordem e o Grão-Mestre da loja; e (5) um fato patentemente comprovado mediante extensas pesquisas, há livros reconhecidos e usados no mundo inteiro. Por ordem de preferência nos Estados Unidos, as três obras mais empregadas são: Coil's Masonic Encyclopedia (“Enciclopédia Maçônica de Coil”); The Builders (“Os Construtores”), de Joseph Fort Newton; e Mackey's Revised Encyclopedia of Freemasonry (“Enciclopédia Revisada de Maçonaria de Mackey”).[28]
No Brasil, é surpreendente o número de bibliotecas e livrarias (de volumes novos e usados) - especialmente espíritas - que estão repletas de literatura maçônica, incluindo as obras "secretas" da Editora Maçônica. Encontram-se acessíveis ao pesquisador não maçom dezenas de livros escritos por autoridades maçônicas brasileiras, tais como Jorge Adoum (o Mago Jefa), Nicola Aslan (33°), Joaquim Gervásio de Figueiredo (33°), Manoel Gomes (33°), Rizzardo da Camino (33°) e Zilmar de Paula Barros (33°) - além de muitos outros autores traduzidos em língua portuguesa.[29] Embora os maçons neguem a autoridade absoluta de qualquer um desses indivíduos, não se pode deixar de admitir que a maior parte de seus escritos é representativa da prática e do ensino da maçonaria brasileira (reconhecendo algumas diferenças entre as ordens). Com os documentários e as obras públicas sobre a sociedade, além dos vários livros evangélicos de ex-líderes maçônicos que asseveram expor os segredos da sociedade, existem boas bases para a pesquisa.[30] Tudo isso refuta o argumento de que somente os maçons possuem acesso à sua filosofia.

2. A Maçonaria É uma Religião?
Uma das imagens mais divulgadas pela Loja é a de que a maçonaria não possui dogmas ou credos, sendo que apoia toda religião civil e deixa o indivíduo maçom livre para ter suas próprias convicções de fé. Nas palavras de Venâncio Igrejas, a voz mais autorizada do Brasil: “Nos templos não discutimos política e religião”.[31] A Ordem rejeita categoricamente o ateísmo e diz que apoia a religião da cultura dentro da qual funciona, pretendendo apenas o melhoramento do caráter e da moral de seus membros. Sobre essa diversidade religiosa, Nicola Aslan (33°), em seu Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, comenta:
A respeito da religião da Maçonaria, as opiniões são muito divididas entre os Maçons e elas dependem, em grande parte, das tendências religiosas e filosóficas que norteiam as obediências e os ritos maçônicos.
Assim, a Maçonaria anglo-saxônica, em grande parte protestante, é considerada profundamente religiosa e teísta, como o Rito de York... Julga-se geralmente a Maçonaria francesa como racionalista, porque, através do Rito Moderno, permite a iniciação a pessoas sem crença definida, considerando que as opiniões religiosas são questões de foro íntimo, enquanto o Rito Escocês Antigo e Aceito, embora exija a crença em Deus do candidato, é denominado deísta... [32]
Aslan está parcialmente correto. A religiosidade da loja local depende de vários fatores. Muitas vezes, especialmente nos graus mais baixos, a religião aparece apenas como um elemento periférico da função da loja. Outras vezes, a ênfase teológica (implícita ou explícita) pode variar desde o panteísmo e o ocultismo até um teísmo ecumênico e semi-cristão - por exemplo, no sul dos Estados Unidos. Com certa frequência, os anti-maçons ignoram a diversidade dos ritos e formas práticas das lojas nesse sentido.
Por outro lado, a palavra religião tem uma definição geral que os defensores da maçonaria não podem ignorar. Na obra The Encyclopedia of Philosophy (“Enciclopédia de Filosofia”), encontramos a descrição de nove marcas da religião: (1) a crença num ser ou seres sobrenaturais; (2) a distinção entre objetos sagrados e profanos; (3) atos rituais orientados para esses objetos; (4) um código moral com sanção divina; (5) sentimentos religiosos despertados por objetos ou rituais sagrados e relacionados, em teoria, com um deus ou deuses; (6) a oração; (7) uma cosmovisão que engloba o lugar do indivíduo no mundo; (8) a organização da vida ao redor dessa cosmovisão; (9) um grupo social que é unificado pelas características acima.[33] Conforme Ankerberg e Weldon claramente documentam, a maçonaria caracteriza-se por cada uma dessas qualificações.[34] Por isso, a grande maioria dos líderes admite que a maçonaria é, na verdade, uma religião:
A maçonaria pode afirmar corretamente chamar-se uma instituição religiosa... Veja seus antigos landmarks, suas cerimônias sublimes, seus profundos símbolos e alegorias - todos inculcando uma doutrina religiosa, ordenando uma observância religiosa e a verdade religiosa, e quem pode negar que ela é eminentemente uma instituição religiosa? Abrimos e fechamos nossas lojas com uma oração; invocamos a bênção do Altíssimo sobre todos nossos trabalhos; exigimos de nossos neófitos uma profissão de fé confiante na existência e no cuidado providencial de Deus. (Mackey) [35]
Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico, declara abertamente: “A Maçonaria é uma Religião, no sentido estrito do vocábulo, isto é, na 'Harmonização' da criatura ao Criador. É a Religião [sic.] Maior e Universal”.[36] Joaquim Gervásio de Figueiredo, no Dicionário de Maçonaria, define a irmandade da seguinte maneira:
Maçonaria: “É um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo, visível, consistente em seu cerimonial, doutrinas e símbolos, e outro aspecto interno, mental e espiritual, oculto sob as cerimônias, doutrinas e símbolos, e acessível só ao maçom que haja aprendido a usar sua imaginação espiritual e seja capaz de apreciar a realidade velada pelo símbolo externo”. [37]
Existem dezenas de declarações paralelas.[38] Conquanto haja divergências (uma face pública, outra interna), grande parte da literatura maçônica sem dúvida no Brasil - sustenta abertamente a natureza religiosa da fraternidade. No Brasil, o fato de se descobrirem, em livrarias e bibliotecas, obras sobre a maçonaria junto com livros acerca de esoterismo, ocultismo e religião comprova o consenso público nessa questão. De fato, em quase todos seus escritos, a maçonaria apresenta-se como a essência da religião.[39]

3. Qual é o Lugar Que a Bíblia Ocupa na Maçonaria?
Às vezes, os cristãos maçons destacam que a maçonaria especulativa foi iniciada por dois pastores e, assim, é essencialmente cristã em seus fundamentos. Pelo menos, não contradiz nada do que o cristianismo promulga. Na revista maçônica New Age, Winston Watts (32°) expõe a procura da verdade, afirmando que, "na maior parte, nossa busca está centrada na Bíblia Sagrada, a fonte principal de nosso conhecimento".[40] Em virtualmente todos os dicionários maçônicos, a Bíblia - "o Livro da Lei" é exaltada como "um dos grandes Luzeiros da Maçonaria",[41] um elemento importantíssimo dos móveis da loja ocidental, sobre o qual todo cristão iniciado faz seu juramento. Em parte, é com base em certas figuras bíblicas - por exemplo, São João Batista, São João Evangelista, João Marcos e o artífice Hirãm-Abitt (ou Hirão Abi, 1 Rs 7.13-14; 2 Cr 2.13-14) - que a maçonaria desenvolveu suas mitologias e rituais.
Em toda a literatura maçônica (Ritos York e Escocês), entretanto, dificilmente se descobre qualquer afirmação acerca da única inspiração verbal ou da autoridade soberana das Escrituras. Sem exceção, os autores fazem questão de insistir que a Bíblia é apenas um livro sagrado, usado como metáfora da vontade divina e da lei natural. Na Coils Masonic Encyclopedia, a obra mais autorizada nos Estados Unidos, lemos: “A opinião maçônica prevalecente é de que a Bíblia constitui apenas um símbolo da vontade, lei ou revelação divina, e não que seu conteúdo é lei divina, inspirada ou revelada”.[42]
Naturalmente, sendo um símbolo, a Bíblia precisa de interpretação. Zilmar de Paula Barros, em A Maçonaria e O Livro Sagrado, declara que, “com a morte física de Jesus, perdeu-se a PALAVRA. E, entre as múltiplas finalidades. da Maçonaria, está buscar a 'palavra perdida...', ou seja TRAZER A HUMANIDADE A VERDADEIRA INTERPRETAÇAO DA MENSAGEM EVANGÉLICA DE JESUS![43] Martin Wagner, um perito em maçonaria, observa o seguinte: "Todos os maçons eminentes afirmam que existe um véu sobre as Escrituras, o qual, quando removido, as torna claramente concordes com os ensinamentos maçônicos, e em harmonia essencial com outros livros [sagrados]”.[44] Logo, a filosofia maçônica constitui o par de óculos através do qual tudo é filtrado.
Apesar da ênfase na Bíblia Sagrada, os livros esotéricos frequentemente recebem mais atenção. Em suas instruções sobre os três primeiros graus (Loja Azul) no Brasil, Nicola Aslan explica:
A Bíblia e a Cabala fornecem o mais poderoso contingente para o enriquecimento do simbolismo maçônico, e o Ocultismo, abrangendo o conjunto dos sistemas filosóficos e das artes misteriosas derivadas dos conhecimentos dos antigos, deu também abundante contribuição.[45]
Quase sempre, a verdadeira sabedoria (antiga) é descoberta no misterioso e oculto, seguindo o gnosis, a iluminação, a numerologia e, especialmente, a cabala (misticismo judaico).[46] Diante da mistura de religiões sincretistas que predominam na literatura maçônica, a Bíblia fica subjugada a interpretações diversas por meios místicos e alegóricos. Por outro lado, ninguém defende uma interpretação objetiva e histórico-gramatical. A Bíblia é aproveitada por sua ética e como símbolo divino, sem encorajar qualquer interpretação doutrinária de seu conteúdo. De fato, muitas seitas consideradas heréticas são mais fiéis ao significado do texto bíblico do que os escritos maçônicos.

4. Quem É o Deus da Maçonaria?
O Deus maçônico é denominado o Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.) - o Ser Supremo, Criador ou Força Cósmica da existência e preservação. O Landmark 19 proclama: “A negação da crença do G.A.D.U. é impedimento absoluto e insuperável para a iniciação”.[47] Propositadamente, a definição é ambígua o bastante para englobar todos os conceitos de Deus sustentados pelas religiões - não apenas as teístas (judaica, cristã e islâmica), mas também as dualistas (taoísta, zoroastriana) e as panteístas (gnóstica, espírita, hindu e budista). Sem dúvida, no início da história da maçonaria especulativa, as pressuposições eram mais teístas, como continuam sendo para os cristãos que se envolvem na loja. Ironicamente, foram os reverendos anglicanos James Anderson e John Desagulliers, elaboradores da primeira Constituições (1723), que abriram a maçonaria para todas as crenças e descristianizaram a linguagem maçônica, procurando uma estrutura teológica mais universal.[48] Entretanto, a nível popular, dentro das culturas “cristãs” - cada vez menos, porém - o Grande Arquiteto do Universo continua a ser cultuado como um Ser soberano, inteligente, moral e, em certo sentido, pessoal. Assim como o antigo liberalismo do século passado, a maçonaria proclama “a paternidade do Pai e a fraternidade ao homem”. Semelhantemente, também, a essência da religião define-se mais pela ética do que por qualquer crença em afirmações doutrinárias.[49] Logicamente, tais afirmações já pressupõem uma cosmovisão e uma teologia geral que se encontram expressas em muitos escritos, como no Dicionário de Gervásio de Figueiredo:
Não obstante a imensa diversidade de seus cultos externos, todas as religiões apresentam uma base comum em seus internos princípios morais, filosóficos e místicos. Com efeito, o estudo comparativo das religiões demonstra serem idênticos os seus ensinamentos fundamentais sobre a Divindade, o homem, o universo, a vida futura, porém adaptados à época e ao povo a que se destinaram... Seus imortais fundadores foram todos Mensageiros da Verdade única, que deram à humanidade seu evangelho de União e Fraternidade, para que através do Amor as almas se religuem entre si e ao Supremo. Todos eles foram unânimes em proclamar a Paternidade de Deus e a Fraternidade dos homens. Tal foi, em essência, a mensagem de Vyâsa, Hermes, Trismegisto, Zarathustra, Orfeu, Krishna, Moisés, Pitágoras, Platão, Cristo, Maomet e outros. [50]
O conceito de Deus nos escritos da maçonaria é uma mistura de tudo, de gnosticismo, druidismo, luciferianismo, hinduísmo, taoísmo, zoroastrismo, iluminismo, cristianismo liberal e Nova Era. Mackey declara: “A religião da maçonaria é cosmopolita, universal... 'Esteja certo', diz Godfrey Higgins, 'de que Deus está igualmente presente com o piedoso hindu no templo, o judeu na sinagoga, o muçulmano na mesquita e o cristão na igreja'”.[51] Contudo, por trás do pluralismo, existe uma crença fundamental, articulada por Aslan:
...é absolutamente necessário fazer abstração de todo fanatismo como de todo preconceito religioso ou anti-religioso, posto que estas veneráveis tradições são os “ecos” dos velhos dados da antiga ciência dos Iniciadores, tão intimamente ligada, então, às Religiões que é quase impossível separá-las de sua Mãe.[52]
Ou seja, todas as religiões são representações das antigas e primitivas verdades, destiladas no ensino da maçonaria, que é, em última instância, a Mãe de todas as religiões. Deus, o G.A.D.U., é o Deus buscado e manifestado por todas as religiões. Infelizmente, tal representação - popular no romantismo otimista dos séculos XVIII e XIX - ignora um fato muito patente: seu conceito de Deus determina sua ética. É impossível unificar as definições mais variadas de Deus em torno de uma ética fraternalista: o pacifismo social do hindu, a ética vindicativa do muçulmano e o amor autosacrificial ativo do cristão encontram-se diretamente relacionados com contraditórios conceitos de Deus.
Talvez uma das acusações mais fortes contra a loja seja a seguinte: no grau do Real Arco do Rito de York, quando o maçom supostamente encontra a Arca da Aliança perdida nas ruínas do templo salomônico, descobre-se o verdadeiro nome de Deus como sendo JABULOM. Tal nome, segundo o próprio H. W. Coil, é uma associação de lahweh (o Jeová do Antigo Testamento), Ba'al ou Bel (o deus cananita) e Om (Osiris, o deus-sol do Egito)[53] - o que um autor chama de “Não-Santíssima Trindade”.[54] Outros observam que, no Rito Escocês, no 17° Grau dos Conselhos de Cavaleiros do Oriente e Ocidente, há também a “palavra sagrada” Abadom; este nome divino na maçonaria é o nome do rei (ou anjo) do abismo, em Apocalipse 9.11.[55]
Embora a maçonaria encoraje um pluralismo da conceituação de Deus, conforme vários autores afirmam, há cada vez menos lugar para o Deus tripessoal da Bíblia. A ideia do Logos e da Trindade é vista de uma forma gnóstica e alegórica, distante da Confissão de Nicéia, como vemos na exposição do 4º Grau por Jorge Adoum [56]. Embora nem todos o façam, alguns eruditos maçônicos, tais como Albert Pike [57], presunçosamente atacam o cristianismo clássico com os argumentos comuns do século XIX, alegando um politeísmo que formou o judaísmo antigo, a base pagã do trinitarismo, e pregando um deísmo otimista característico daquela época. Num novo documentário, Robert A. Morey, um autor bastante objetivo, declara o seguinte:
Centenas de livros maçônicos que atacam o cristianismo e ensinam abertamente o paganismo são publicados, apoiados e recomendados por altos oficiais, lojas estaduais e conselhos supremos. É-nos dito que isso é adequado, porque a Ordem deve ser universal em seu apelo, e cada maçom pode interpretar a palavra “Deus” e os símbolos da confraria da maneira como quiser.
Entretanto, quando um cristão maçom procura oferecer uma interpretação cristã dos rituais e símbolos da confraria, ele é proibido de assim o fazer!... Para cada escritor maçom que diz que a maçonaria não é uma religião, há cinco escritores maçons afirmando que é uma religião pagã... todos eles concordam que o cristianismo está errado e que seus ensinamentos não devem ser permitidos na loja...
Se a maçonaria continuar na direção em que parece estar indo, então os cristãos maçons devem abandonar a Ordem, porque ela vem se tornando uma religião pagã, ocultista, hostil ao cristianismo.[58]
Concluímos que, embora alguns indivíduos e até certas lojas locais sustentem uma definição da divindade mais próxima do cristianismo histórico, a grande maioria ignora ou rejeita a perspectiva bíblica de Deus. Dificilmente se pode negar que, nas águas turvas do ritual e do símbolo maçônicos, há implicações sinistras sobre o entendimento de Deus para o cristão verdadeiro.

5. Qual É o Lugar de Jesus Cristo?
Diante de um conceito ambíguo e unitariano de Deus, seria correto esperar pouco sobre o Redentor. Ao buscarmos informações acerca de Jesus Cristo nos dicionários e enciclopédias maçônicos - Coil, Mackey, Macoy, Gervásio de Figueiredo, Rizzardo da Camino, Aslan - descobrimos uma ausência quase total de dados a esse respeito. Quando se procuram referências sobre Jesus Cristo, a cruz ou outros ensinos especificamente cristãos nas próprias citações bíblicas dos rituais e cerimônias maçônicos, percebe-se logo que todas foram omitidas - tiradas do meio dos trechos (e. g. At 4.11; 2 Ts 3.6, 12; 1 Pe 2.4-8, onde a pedra angular é o verdadeiro maçom).[59] Embora as reuniões maçônicas incluam a oração, é absolutamente proibido orar no nome de Jesus. Eles até mesmo modificaram o calendário baseado no advento de Cristo, aceito no mundo inteiro, para um sistema irreligioso: “Os maçons, ao fixar datas em seus documentos oficiais”, diz Mackey, “nunca fazem uso da época comum ou era vulgar, mas têm uma que lhes é peculiar...”[60] Paradoxalmente, em alguns casos, os mesmos dicionários que omitem Jesus Cristo contêm artigos substanciais sobre dezenas de outros religiosos antigos e modernos - Jonas, Ezequiel, Orfeu, Pitágoras, Zoroastro, Emmanuel Swedenborg, Annie Besant, Helena Blavatsky etc. Isso sugere, no mínimo, a irrelevância de Jesus Cristo na filosofia maçônica.
Em alguns aspectos, a maçonaria evidencia implicações ainda mais preocupantes: por um lado, a divindade de Cristo é negada e, por outro, a divinização do homem é afirmada. Rizzardo da Camino define Cristo da seguinte maneira: “É a denominação de um 'estado de alma' que se encontra na parte espiritual do ser humano. Jesus atingiu esse 'grau' na Cruz e por isso foi denominado de Jesus o Cristo. É erro dizer-se 'Jesus'... Cada cristão pode ter em si o Cristo...”[61] Se as evidências acima forem conclusivas de que Deus normalmente é conceituado em categorias deístas, ocultas e panteístas, então é impossível que Jesus Cristo seja o Filho unigênito de Deus. Ele se torna apenas “um grande mestre de moralidade” ou protótipo de divinização - algo corroborado por vários dos principais autores maçons.[62] Entretanto, apesar das múltiplas negações da divindade de Jesus Cristo, os cristãos maçons ressalvam que tais não passam de diferenças de convicções religiosas, todas permitidas sob o teto maçônico; assim, uma posição é igual à outra.
Uma história recente toca nesse ponto. O Venerável Mestre James Shaw (33°) era um orador experiente da cerimônia do Cavaleiro Rosa-Cruz (18° grau do Rito Escocês), que é praticada toda quinta-feira da Semana Santa. Conforme havia feito muitas vezes, mas agora como um cristão recém-convertido - estando todos vestidos em mantos pretos e encapuzados – ele começou a conduzir o ritual: “Encontramo-nos neste dia para comemorar a morte de nosso 'Sapientíssimo e Perfeito Mestre', não como inspirado ou divino, pois isto não compete a nós decidir, mas como pelo menos o maior dos apóstolos da humanidade”. A mesa em forma de cruz, sobre a qual há rosas vermelhas, é o lugar onde o mestre dirige a ceia maçônica, com vinho e pão: “Comei e dai de comer a quem tem fome... Bebei e dai de beber a quem tem sede”. Depois de apagar todas as velas do candelabro, com exceção de uma, o mestre anuncia a morte do “Sapientíssimo e Perfeito Mestre” - “Ele está morto! Lamentai, pranteai e chorai, pois ele se foi” e apaga a última vela, tudo terminando em escuridão.[63] Embora Shaw tivesse conduzido esse mesmo ritual diversas vezes, nesta ocasião ele estava tremendo e com náusea, reconhecendo o significado cristológico do que fazia: “Tínhamos dramatizado e comemorado a extinção da vida de Jesus, sem mencionar sequer uma vez seu nome... Eu havia acabado de chamar Jesus de 'um apóstolo da humanidade' que não era inspirado nem divino”. Logo depois, Shaw renunciou à loja.[64] Sua conclusão foi que o sentido anticristão não representava apenas uma facção maçônica ocultista declarada, mas certos rituais e ensinos básicos da maçonaria são deliberadamente antagonistas à fé cristã.

6. Como Alguém É Salvo na Maçonaria?
Quando o iniciado (chamado profano) participa do primeiro grau de Aprendiz-Maçom, confessa-se que ele (vendado, nesse momento) vivia nas trevas e estava cego, mas, agora, deseja entrar à verdadeira luz da maçonaria.[65] Não há nenhuma exceção para o cristão. Enquanto a irmandade não articula publicamente um caminho de salvação, existem pressuposições inegáveis - vistas desde o primeiro rito até o sepultamento de cada maçom. A perspectiva soteriológica da maçonaria é percebida através de quatro conceitos, os quais orientam toda sua prática: (a) a natureza do homem; (b) a aceitação de Deus; (c) a vida vindoura; e (d) o proselitismo evangélico.
a. A natureza do homem. O cristianismo clássico confessa a verdade irônica de que o ser humano, sendo criado na imagem de Deus, é ontologicamente superior e separado das outras criaturas terrestres. Ao mesmo tempo, porém, ele é espiritualmente rebelde e corrupto, afastado de Deus e morto em suas transgressões - ou seja, ele é moralmente o pior ser terrestre. Apesar de suas muitas instruções moralistas, a maçonaria é marcada por uma ausência total dos conceitos de pecado e arrependimento (nem possui tais palavras em seus dicionários). Em vez de estar separado do G.A.D.U., o homem é visto como apenas imperfeito e não-iluminado, algo simbolizado na Pedra Bruta (cubo polígono) do Aprendiz, que nos graus seguintes é burilada e polida: “Símbolo da Idade Primitiva e, portanto, do homem em estado natural e sem instrução, a Pedra Bruta é a imagem da alma do profano antes de ser instruído nos mistérios maçônicos”.[66] O profano, ou não-maçom, não está derradeiramente perdido, mas encontra-se apenas mais longe de Deus do que a elite fraternal da maçonaria, que possui a responsabilidade de construir “o Templo da Humanidade”. A loja é o meio através do qual os homens podem melhorar a si mesmos e procuram “levantar templos à Virtude e cavar masmorras ao vício”.[67] Assim, a maçonaria pressupõe essencialmente a natureza boa de cada ser humano, mas esta natureza precisa de um despertamento e de uma iluminação por meio da filosofia da fraternidade.[68] Obviamente, não há necessidade e nem motivo para a propiciação de pecados mediante a morte de Jesus Cristo na cruz.
b. A aceitação de Deus. “A maçonaria”, afirma J. S. M. Ward, “ensina que cada homem, por si mesmo, pode desenvolver seu próprio conceito de Deus e, assim, alcançar a salvação”.[69] Sem dúvida, a maçonaria promulga a ideia de que, através de seus próprios esforços, o homem é aperfeiçoado e torna-se digno perante o G.A.D.U. A regeneração, ou conversão, é essencialmente um processo da alma humana.
A doutrina da regeneração foi ensinada, nos Antigos Mistérios, por símbolos: não é, porém, o dogma teológico da regeneração peculiar à Igreja Cristã, mas o dogma filosófico de uma mudança da morte para a vida, isto é, um novo nascimento para a existência imortal... É esta a doutrina ensinada nos Mistérios maçônicos, e muito especialmente no simbolismo do Terceiro Grau [ressurreição de Hirãm-Abif]. Não precisamos dizer que o Maçom se acha regenerado pelo fato de ter sido iniciado, mas tão-somente que foi doutrinado na filosofia da regeneração, ou na do renascimento de todas as coisas - da luz surgindo das trevas, da vida nascendo da morte, da vida eterna em substituição da vida transitória.[70]
Rizzardo da Camino acrescenta: “A finalidade precípua da Maçonaria é o ato regenerativo. A reconstrução do ser humano, da Natureza, do Cosmos, são os ideais maçônicos”.[71] Se alguns expositores da maçonaria falam de uma salvação realizada por uma progressão que envolve o auto-aperfeiçoamento e boas obras, outros, como Albert Pike, avançam mais um passo, já visto anteriormente: “Em cada ser humano, o Divino e o Humano estão entrelaçados”, e “a maçonaria é a subjugação do Humano pelo Divino que está no homem”.[72] Como Pike, Gervásio de Figueiredo pressupõe a divindade inata de cada homem: “Deus é a alma de tudo... Deus e o mundo são apenas um”.[73] Diante das múltiplas afirmações maçônicas sobre a natureza da salvação, muitos autores concluem que a soteriologia maçônica é antiética à fé evangélica, conforme articulado pelo escritor maçônico E. A. Coil:
O fato de a diferença fundamental entre os princípios incorporados nos credos históricos da cristandade e aqueles de nossas ordens secretas modernas não ter sido claramente refletida é indicado pela evidência de que muitos se comprometem com ambos. Há maçons que, nas igrejas, aderem à doutrina de que "somos considerados justos perante Deus apenas pelo mérito de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pela fé, e não por nossas próprias obras e merecimentos", e entusiasticamente juntam-se ao coro dos hinos nos quais essa ideia é expressa. Então, em suas reuniões maçônicas, exatamente com o mesmo entusiasmo, eles assentem à seguinte declaração: "Embora nossos pensamentos, palavras e ações possam ser ocultos dos olhos dos homens, ainda assim aquele Olho-Que-Tudo-Vê, a quem o sol, a lua e as estrelas obedecem... penetra nos recantos mais íntimos do coração humano, e nos recompensará de acordo com nossos méritos". Uma criança pequena, assim que se chame sua atenção para o assunto, deve ser capaz de perceber que é impossível harmonizar a frase do credo aqui citada com a declaração extraída da admoestação de uma de nossas maiores e mais eficazes ordens secretas, e encontrada, na totalidade, nas liturgias de todas, ou quase todas, as outras... Uma dessas afirmações exclui a outra. Os homens não podem coerentemente anuir a ambas.[74]
Na maçonaria, a salvação do homem é alcançada sem Jesus Cristo. O ser humano alcançará a perfeição e a aprovação divina através de seus próprios esforços moralistas, senão por sua própria divinização.
c. A vida vindoura. O Landmark n° 20 declara que, de cada maçom, “é exigida a crença de uma vida futura”.[75] A imortalidade da alma é uma das doutrinas mais importantes da confraria. Por isso, tendo obtido a permissão da família, os maçons exigem o controle exclusivo sobre o último rito do irmão falecido. Embora os rituais fúnebres variem, todos declaram que o maçom, por sua pureza de conduta e vida de serviço, recebe a aceitação na Loja Celestial onde o G.A.D.U. preside.[76] Visto na literatura maçônica, o conceito da imortalidade da alma aproxima-se mais da hierarquia espiritual do espiritismo brasileiro, consistindo num sincretismo de elementos religiosos.[77] Procuramos em vão qualquer referência ao inferno ou à separação de Deus devido ao pecado, e mesmo sobre o juízo final, ou seja, as doutrinas bíblicas que estabelecem a estrutura do evangelho de Jesus Cristo.[78] Cada vez mais, fica auto-evidente que a participação do cristão numa irmandade assim é uma negação implícita de tais verdades.
d. O proselitismo evangélico. A perspectiva da maçonaria sobre o cristão também é importante a esse respeito. Elogiando o hinduísmo como uma religião que não busca seguidores, Mackey destaca a regra de toda ordem: “Em termos absolutos, a maçonaria é rigorosamente contra todo proselitismo”.[79] Admitindo sua própria religiosidade, a maçonaria proíbe o evangélico de falar sobre Cristo na loja. Em Maçonaria: Contra ou a favor?, o Pr. J.J. Soares narra que em “certa ocasião perguntou a um ilustre pastor, que na época era venerável [mestre], se ele conhecia algum maçom que tivesse aceitado o evangelho, não teve surpresa com a resposta: 'nenhum’.”[80] Inversamente, por mais rara que seja, qualquer forma de “cristianização” conservadora da maçonaria - vista, por exemplo, em A Maçonaria e o Cristianismo, de Jorge Buarque Lyra (1953) - é, na melhor das hipótese, tolerada, sendo geralmente denegrida e refutada pelas autoridades.[81]

7. Existem Vínculos Entre a Maçonaria e as Religiões Ocultas?
A maioria dos maçons ridicularizaria a acusação de que a fraternidade esconde elementos das religiões ocultas. Eles dizem que os símbolos encontram-se abertos a interpretações diversas e, na verdade, não importa se alguns querem interpretá-los de uma forma mística. Contudo, John Ankerberg, autor de cinco documentários sobre a maçonaria, observa:
A maioria dos maçons que participam dos rituais não compreende seu sentido oculto. Caso sigam a maçonaria apenas como uma participação irrefletida nos rituais, para eles talvez seja verdade que a sociedade não é ocultista. Tais maçons desconhecem o significado misterioso de muitos dos símbolos e rituais maçônicos, e escolheram não abordar a questão. Mas isso não se aplica a todos os maçons. Há outros que realmente buscam o sentido oculto.[82]
Em The Brotherhood (“A Irmandade”), Knight nota que os adeptos maçons quase sempre mostram atração pelo oculto, procurando “o significado real” existente por trás das ambiguidades dos ritos: “Tais pessoas são gradualmente aceitas no santuário interior da irmandade”.[83] Como o alcance do relacionamento entre a maçonaria e o oculto é vasto, limitaremos as observações a três áreas: os juramentos, a ilusão e a simbologia pagã.
a. Os juramentos. Cada maçom jura ser leal à fraternidade acima de qualquer outro grupo (incluindo a igreja), mediante votos extremamente fortes. Prometendo solenemente não divulgar os segredos da maçonaria - nem os crimes de outros maçons (exceto o homicídio e a traição) - o iniciado jura o seguinte, sobre o Livro Sagrado (a Bíblia, Alcorão ou Vedas etc.):
Eu ... juro e prometo, de minha livre vontade, pela minha honra e pela minha fé, em presença do Supremo Arquiteto do Universo, que é Deus, e perante esta assembleia de maçons, solene e sinceramente, nunca revelar qualquer dos mistérios da maçonaria que me vão ser confiados... Se violar este juramento seja-me arrancada a língua, o pescoço cortado e meu corpo enterrado nas águas do mar, onde o fluxo e refluxo me mergulhem em perpétuo esquecimento, sendo declarado sacrílego para com Deus e desonrado com os homens. Assim seja.[84]
Outros juramentos maçônicos são semelhantes, cada um exigindo fidelidade absoluta à Ordem - muitas vezes com votos de sangue. O juramento do 33° Grau no Templo em Washington, D.C., por exemplo, é selado bebendo vinho de um crânio humano, e um indivíduo vestido como se fosse um esqueleto abraça cada participante no momento do voto fatal.[85] Enquanto certos juramentos na cultura geral parecem lícitos diante da lei, biblicamente o cristão é proibido de jurar sem necessidade (Lv 5.4-6; Mt 5.33-37), muito menos quando isso envolve votos bizarros e sanguinolentos, invocando a morte - os quais caracterizam a maçonaria e todo o ocultismo. Nisso, quase todas as fraternidades secretas e seitas ocultas seguem o padrão da maçonaria.[86]
b. A ilusão. Os escritores mais eminentes da confraria admitem que a elite maçônica ilude os maçons dos níveis inferiores, deixando que eles creiam no que desejam. As verdades mais sublimes permanecem ocultas dos neófitos, sendo que os mais avançados mantêm as chaves do “conhecimento real”. Segundo Martin L. Wagner:
A maçonaria esconde ciosamente seus segredos, e intencionalmente desorienta os intérpretes presunçosos. Parte dos símbolos é exposta ao iniciado, mas ele é deliberadamente enganado por interpretações falsas... Os segredos reais permanecem ocultos e... esses se encontram tão profundamente encobertos para o maçom quanto para qualquer outra pessoa, a menos que tenha estudado a ciência do simbolismo em geral, e do simbolismo maçônico em particular... A venda real nunca é completamente removida dos olhos de uma imensa maioria dos membros da confraria. Eles nunca são levados à verdadeira luz da maçonaria... Eles enxergam as vestimentas, mas não aquilo que os trajes ocultam.[87]
O fato de as autoridades admitirem o engano dos iniciados deve levantar suspeitas em duas áreas críticas. (1) A ética da organização maçônica é questionada. Por trás dos "bons homens", há uma estrutura clandestina de poder e manipulação. Existem vários livros argumentando que uma fraternidade secreta na civilização geral acaba pervertendo a justiça e minando a democracia; há sempre uma hierarquia oculta que defende seus próprios interesses.[88] Quando o juiz, o advogado, o policial e os criminosos são todos maçons, o veredicto será muito diferente do que no caso de um criminoso comum. Da mesma forma, numa denominação, quando existe uma hierarquia maçônica secreta, a unidade, a honestidade e a transparência do Corpo de Cristo são sacrificadas por manipulações políticas, segredos e jogos de poder - algo que alguns afirmam marca várias denominações evangélicas brasileiras. (2) O mesmo fato da ilusão dos maçons inferiores levanta, também, uma suspeita sobre a validade da interpretação cristã que os evangélicos maçons fazem dos ritos. Parece mais um entendimento que é tolerado com o propósito de penetrar na igreja e, assim, controlá-la. Os dados já apresentados indicam que a maçonaria, de fato, não possui nenhum interesse no evangelho do cristianismo clássico.
c. A simbologia pagã. Por natureza, os símbolos sempre significam algo, ou nem seriam usados. Não são elementos vazios ou arbitrários. Na melhor das hipóteses, é algo ingênuo o cristão maçom dizer que os milhares de símbolos da Ordem são meramente relativos à fé do indivíduo, podendo ser tanto bíblicos quanto pagãos.
Há mais duas considerações importantes nessa questão. Primeiro, não existe uma teoria conclusiva sobre as origens históricas da maçonaria. Segundo Morey, foi a maçonaria francesa que desenvolveu as ideias esotéricas popularizadas por Albert Pike, a saber, de que a maçonaria foi iniciada nas religiões antigas e ocultas. Hoje, “nove em cada dez livros repetem essencialmente Pike”, o qual, por sua vez, plagiou as idéias de Abbe Robin, Alexander Lenoir, Eliphas Levi e Godfrey Higgins:
Será em vão procurar quaisquer referências aos mistérios ou divindades pagãs na maçonaria antiga. Não pudemos encontrar uma única menção às artes ocultas, tais como a magia ou a astrologia. Ninguém alegava ser um druida ou um feiticeiro. O primeiro escritor que tentou associar os mistérios pagãos à maçonaria foi Abbe Robin, em 1780. Ele afirmava que a maçonaria era a guardiã atual dos mistérios antigos.[89]
Enquanto os rituais de hoje derivam de um processo evolutivo,[90] os eruditos geralmente concordam que Pike e Mackey são os arquitetos da maçonaria atual, seguidos por H. W. Coil, Newton, Duncan, Clausen, Waite, Mellor et. al. Assim, as raízes históricas não vêm diretamente das religiões pagãs; o ocultismo, em parte, foi imposto à fraternidade.
Por outro lado, discordar de que a maçonaria originou-se diretamente das religiões pagãs não significa negar que os símbolos maçônicos encerram um significado ocultista. As questões principais não são tanto históricas, mas filosóficas: de onde vêm os símbolos maçônicos usados hoje? E, ainda mais importante, quais são as interpretações normativas desses símbolos dentro da confraria? Os limites do presente trabalho exigem um resumo desse tópico, que é ao mesmo tempo abrangente e fundamental. Há uma crescente dominância das interpretações explicitamente ocultas acerca dos símbolos da maçonaria. Albert Pike e Manly P. Hall eram conhecidos como cabalistas e luciferianos,[91] e sua influência é notável nos graus mais altos da maçonaria. Pike declarou que "a cabala é a chave das ciências ocultas" e “todas as associações maçônicas devem a ela [a cabala] seus símbolos e seus segredos”.[92] Junto com a cabala, a maçonaria bebe livremente das fontes da filosofia hermética, do rosicrucianismo, das religiões orientais e da Nova Era. O mais condecorado maçom do mundo, H. V. B. Voorhis, autor de vinte e seis livros, declara que existe um nível da maçonaria - “mais profundo do que a membresia geral compreende” - chamado de maçonaria oculta.[93] O Soberano Grande Comendador Henry C. Clausen promulga “a verdadeira Nova Era” com “nosso altar no Oriente” e a “divindade em todas as coisas”.[94] No Brasil, quase não há exceção à simbologia oculta, existindo centenas de livros que defendem as interpretações cabalistas, alquimistas, gnósticas, teosofistas e espíritas dos ritos e símbolos da maçonaria.[95] Já observamos os nomes atribuídos a Deus (JABULOM, Abadom), a missa maçônica da Semana Santa e certos ritos e juramentos, com suas implicações pagãs. Símbolos como a estrela invertida (pentalfa, sinal comum do satanismo), a serpente, a pirâmide com o olho esquerdo, crânios humanos, o bafomet (cabra de Mendes, deus do Egito) etc. dificilmente são neutros, e muito menos cristãos.[96] Infelizmente, justamente por serem símbolos ocultos, é impossível provar por completo seu significado absoluto sem que se profira outra interpretação.
Com a União Batista da Escócia, concluímos: “Certamente, todo o complexo de ideias inerentes à maçonaria traz semelhanças precisas com o ocultismo, estando em nítido contraste com a pureza e a simplicidade do evangelho, e seria inconsistente com o 'caminhar na luz' do cristão”.[97] Provavelmente, segundo Ankerberg,[98] com o novo misticismo mundial (e sem dúvida no Brasil), a fraternidade e o ocultismo estarão cada vez mais servindo um ao outro - os maçons sendo levados às artes negras, e os ocultistas infiltrando-se e dominando a maçonaria.

CONCLUSÃO
Baseado em sua extensa pesquisa, Stephen Knight - que não é nem cristão, nem maçom - observa o seguinte: "A maçonaria está extremamente preocupada em ter - ou parecer que tem - boas relações com todas as igrejas cristãs".[99] Ele prossegue dizendo que, dentro da igreja, o poder maçônico é tão forte que "a igreja... não ousa ofender ou provocar milhares de leigos influentes e, muitas vezes, financeiramente abastados, investigando as implicações religiosas da maçonaria.[100]
Notamos as evidências de que: (1) é possível obter um conhecimento adequado da filosofia e das cerimônias da maçonaria; (2) a fraternidade é, em todos os elementos básicos da definição, religiosa por natureza; (3) o uso da Bíblia é meramente simbólico, sendo os ensinos reinterpretados conforme qualquer filosofia que o maçom quiser; (4) o vago conceito do G.A.D.U. maçônico é compatível com toda religião; (5) há uma omissão quase absoluta de referências sobre Jesus Cristo, mas não de vários outros líderes religiosos; (6) o homem, bom em si mesmo, torna-se aceitável por sua própria justiça diante do G.A.D.U.; e (7) há elos cada vez mais fortes com o ocultismo, os quais, de fato, saturam os ritos e símbolos maçônicos. Portanto, fica auto evidente que a religião maçônica é ambígua, mas não vazia. E é justamente essa ambiguidade, assim como as religiões sincretistas do Egito, de Canaã, da Babilônia da antiga cultura grega e do Império Romano - sempre vistas na Bíblia como falsas e diabólicas - que torna a maçonaria totalmente incompatível com a fé cristã.
Mas o enigma continua. Como cristãos, e até mesmo pastores evangélicos, podem pertencer à loja? Por um lado, "é impossível... manchar os caráteres de tantos maçons ilustres com a adoração ao diabo".[101] Há indivíduos bons na irmandade. E nem todas as lojas e ordens funcionam com a mesma ênfase em seus ensinos religiosos e filosóficos. Por outro lado, uma vez dentro da confraria, é difícil sair. Diante de poderosos membros da sociedade, o cristão maçom faz juramentos solenes de segredos. Pode-se dizer, também, que o cristão geralmente permanece nos graus inferiores, muitas vezes mantendo uma ignorância intencional para aproveitar as ligações privilegiadas.[102] Sem dúvida, muitos cristãos maçons justificam-se com razões sentimentais por se sentirem bem e aceitos na irmandade elite, não fazendo nenhuma reflexão religiosa. Como há outros cristãos na Ordem, ele se engana, evitando as inescapáveis implicações dos ritos, palestras e escritos dos mais adeptos, e explica-se dizendo que, de uma forma ou de outra, está servindo a Deus. Visto de uma maneira mais crítica, ele adora um deus falso, cala seu testemunho de Cristo, aceita o fato de que o homem pode salvar a si mesmo, contribui com mensalidades e taxas para cada grau e, assim, colabora tacitamente para a perdição dos outros maçons que precisam da verdadeira luz.
Alva J. McClain, fundador do Grace Theological Seminary, apresenta quatro explicações para o fato de o chamado cristão permanecer na Maçonaria.[103] (1) Ele não entende de que consiste o cristianismo bíblico; para ele, é apenas uma religião sincretista e liberal. (2) Ele não compreende o que é a maçonaria, desconhecendo a filosofia religiosa da confraria (pois há uma extraordinária ignorância dentro do movimento). (3) Alguns cristãos continuam se relacionando com a maçonaria, apesar de entenderem o que é o cristianismo e o que é a maçonaria. Estes ficam sem desculpa, especialmente se forem pastores - caso idêntico ao dos sacerdotes que esconderam seus deuses abomináveis no Templo sagrado em Jerusalém, na visão de Ezequiel 8. E (4) alguns dos chamados cristãos dentro da maçonaria já são apóstatas da verdadeira fé. Apesar de diferenças teológicas, concluímos junto com o Catolicismo, as Ortodoxias grega e russa e as declarações de muitas denominações Evangélicas, que o Cristianismo e a maçonaria são, de fato, mutuamente exclusivos.
Profira-se mais uma palavra. Diante do crescimento do ocultismo no Brasil, as igrejas precisam fazer as difíceis perguntas sobre a compatibilidade da maçonaria com a fé bíblica. Os leigos, ao pastor; o pastor, aos leigos. A igreja, diante da denominação; a denominação, perante as igrejas. Como os herdeiros das doutrinas da reforma - sola fide, sola gratia, sola scriptura - podem continuar como as únicas tradições cristãs que não confrontam a filosofia maçônica? É hora de pedir coragem aos evangélicos dentro das lojas para que se desvinculem da maçonaria (2 Co 6.14-17), e isto, com a graça e o testemunho honesto da verdadeira Luz, Caminho e Vida. Ressalvamos que, da perspectiva humana, há indivíduos bons e obras sociais admiráveis na maçonaria. Entretanto, que a estrutura religiosa e filosófica da maçonaria é contrária aos princípios fundamentais da fé cristã, isso é impossível negar.
Sobre o autor: Scott Horrell é norte-americano e foi, durante muitos anos, missionário no Brasil. Formado em Literatura Inglesa, ele aprimorou seus conhecimentos teológicos na comunidade evangélica L’Abri, na Suíça, a qual era dirigida por Francis Schaeffer. Mais tarde, faria o Mestrado em Teologia no Dallas Theological Seminary, nos EUA, antes de ir para Porto Alegre como missionário. Voltaria, então, para Dallas, onde obteria seu título de Doutor em Teologia. De volta ao Brasil, estabeleceu-se em São Paulo, e foi coordenador da Graduação da Faculdade Teológica Batista. Atualmente, é professor do Departamento de Teologia Sistemática do Dallas Theological Seminary.
Publicado originalmente em VOX SCRIPTURAE 3:1 (março de 1993), p.73-100



NOTAS
[1]Mark S. Hoffmann, ed., The World Almanac and Book of Facts, 1992 (Nova Iorque: World Almanac/Pharos, 1991) 549-562; Herbert J. Rissler, “Freemasonry”, New 20th-Century Encyclopedia of Religious Knowledge, ed. J. D. Douglas (2a ed., Grand Rapids: Baker, 1991) 341-342. Bobby J. Demott, Freemasonry in American Culture and Society (Lanham, MD: Univ. Press of America, 1986) 289-291, alista 25 grupos afiliados direta ou indiretamente à maçonaria nos Estados Unidos, com um total de 5.444.906 membros. Os dados indicam que a membresia maçônica está decrescendo rapidamente, tanto no nível norte-americano (30% desde 1959) quanto no âmbito internacional (mas não no Brasil) - veja Robert A. Morey, The Origins and Teaching of Freemasonry (Southbridge, MA: Crowne, 1990) 122-123.
[2]Conquanto exista uma pluralidade de origens da maçonaria, especialmente através das guildas (confrarias) dos pedreiros, a partir da Idade Média, em geral reconhece-se que a “maçonaria antiga e aceita” - a forma especulativa (filosófica) ou simbólica - começou num pub em Londres, no ano de 1717. Quanto à maçonaria logo se tornar o centro da intelectualidade liberal inglesa e europeia, veja Margaret C. Jacob, "Freemasonry and the Utopian Impulse", em Millenarism and Messianism in English Literature and Thought 1650-1800. Clark Library Lectures 1981-1982, ed. Richard H. Popkin (Leiden: E. J. Brill, 1988) 126-148. Quanto a ser uma irmandade exclusiva, o princípio universal (Landmark) n° 18 diz: "Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade", em Constituição, Regulamento Geral, Código Penal [etc.] (Rio de Janeiro: Grande Loja do Estado do Rio de Janeiro, s. d.) 39.
[3]Alguns afirmam que as ruas principais do centro de Washington, D.C., foram planejadas com a forma dos símbolos maçônicos: o esquadro, o compasso, a régua e o pentagrama. Cf J. Edward Decker, The Question of Freemasonry (Lafayette, LA: Huntington House, 1992), c/ mapa, 31-37.
[4]Demott, Freemasonry in American Culture, 38. Os maçons dos Estados Unidos gastam cerca de 2 milhões de dólares por dia em atividades filantrópicas (1984). Os membros pagam mensalidades e tarifas pesadas por cada grau.
[5]Na bula In eminenti (1738), o Papa Clemente XII proibiu os católicos de se afiliarem à maçonaria, um antagonismo que continua até hoje, tendo sido repetido por no mínimo mais oito papas. Recentemente, quando parecia que a Igreja estava se tornando cada vez mais aberta para a maçonaria, a posição tradicional foi reafirmada por João Paulo II, em meio à descoberta da loja P-2 de Monte Carlo, em 1981. Royal L. Peck, "The Pope Uses Masonic Scandal to Stiffen Traditional Stance", Christianity Today 25:12 (26 de junho de 1981) 38-39. Veja Boaventura Kloppenburg, A maçonaria no Brasil. Orientação para os Católicos (Rio de Janeiro: Vozes, 1956) 266-282; Josef Stimpfle, "Freimaurerei un" katholische Kirche: nach Veroeffentlichung des neuen Kirchenrechts", Communio 13 (março de 1984) 166-174; e J. A. F. Benimelli, G. Caprile e V. Alberton, Maçonaria e Igreja Católica, trad. por V. Alberton (2a ed., São Paulo: Paulinas, 1983).
[6]Veja J. W. Acker, Strange Altars: A Scriptural Appraisal of the Lodge (St. Louis: Concordia, 1959) 31, 60. A Igreja Ortodoxa Russa declara: "Todo cristão católico ortodoxo [que adere à maçonaria]... perde todos os direitos, honras e privilégios de sua membresia e de seu ofício na igreja". (60) A Ortodoxia Grega condenou a maçonaria em 1933, insistindo que é um sistema reminiscente das religiões ocultistas pagãs. Politicamente, a sociedade foi proibida na União Soviética, Polônia, Hungria, Espanha, Portugal, China, Indonésia e na República Árabe Unida, cf Rissler, "Freemasonry", 341. Hoje, o Irã é o único lugar no mundo onde a maçonaria é banida, segundo Venâncio Igrejas, O Grande Comendador do Brasil, em "Maçonaria não casa com ditadura", Ano Zero 2:18 (Out. de 1992) 43.
[7]Citado em The Baptist Union of Scotland, Baptists and Freemasonry (Baptist Church House, 1987; rep. Issaquah, W A: Free the Masons, s. d.) 10.
[8]Grupo de trabalho estabelecido pelo Comitê Permanente do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra, Freemasonry and Christianity: Are They Compatible? (Londres: Church House, 1987) 40.
[9]Relatório do Comitê de Fé e Ordem da Igreja Metodista Britânica, Freemasonry and Methodism, apresentado e adotado pela Assembleia Geral da Igreja Metodista Britânica no dia 3 de julho de 1985, 21-22; citado por John Ankerberg e John Weldon, The Secret Teachings of the Masonic Lodge: A Christian Perspective (Chicago: Moody, 1990) 270. Historicamente, os Wesleys se posicionaram contra a maçonaria.
[10]Baptists and Freemasonry, 7-8.
[11]A Igreja Presbiteriana Ortodoxa (1942), Comitê para Sociedades Secretas, Christ or the Lodge? A Report on Masonry (Filadélfia: Great Commission, 1942); a Igreja Batista Regular (1962), cf Robert T. Ketcham, The Christian and the Lodge (Des Plaines, IL: Batista Regular, 1962); a Igreja Luterana "Missouri Synod" (1964), cf L. James Rongstad, How to Respond to... the Lodge (St. Louis: Concordia, 1977); a Igreja Cristã Reformada (1974) e a Igreja Presbiteriana da América (PCA, 1987). A Igreja Presbiteriana da Escócia está estudando o assunto (1992). Rissler, "Freemasonry", 341, inclui, também, os quacres, os irmãos, os menonitas, os nazarenos e os adventistas como grupos que proíbem seus membros de serem maçons - apesar de haver alguns casos no Brasil.
[12]Robert C. Broderick, ed., The Catholic Encyclopedia (ed. rev., Nashville: Thomas Nelson, 1987), "Masonry, also Freemasonry", 375.
[13]"Manoel Gomes (33°), A Maçonaria l1a História do Brasil (2a ed., Rio de Janeiro: Aurora, c. 1976) 14. Também Ricardo M. Gonçalves, "A influência da maçonaria nas independências latino-americanas", em A Revolução Francesa e seu impacto na América Latina, org. Osvaldo Coggiola (São Paulo: Nova Stella/EDUSP, 1990) 195-209.
[14]A franco-maçonaria (da França), marcada por hostilidades contra a igreja e a aristocracia, e significativamente mais racionalista e/ou oculto-pagã em sua interpretação da maçonaria, passou para a Itália, a Espanha e a América Latina. A maçonaria inglesa continuava mais associada às igrejas protestantes e à nobreza, disseminando-se mais para a Escandinávia e para a América do Norte. Posteriormente, houve sínteses de ideias conjuntando o conservadorismo político inglês e o misticismo francês.
[15]Quatro meses depois, ao declarar a independência, D. Pedro I, suspeitando haver um perigo político com a Maçonaria Vermelha, ordenou que as lojas fossem fechadas. Há várias histórias brasileiras maçônicas, tanto a favor quanto contra essa sociedade. Além de Gomes, Maçonaria na História do Brasil, veja Nicola Aslan, História Geral da Maçonaria (Rio de Janeiro: Aurora, 1979); A. Tenório Cava1cante, A Maçonaria e a Grandeza do Brasil (Rio de Janeiro: Aurora, 1955); José Castellani, Os maçons que fizeram a história do Brasil (2ª ed., São Paulo: Gazeta Maçônica, 1991); João Cesa, Maçonaria e Politica (Fortaleza: Jurídica, 1956); e Kloppenburg, Maçonaria no Brasil, 13-30.
[16]Citando o resumo de Univaldo Corrêa, "Apresentação", em Gomes, Maçonaria na História do Brasil, 7.
[17]Ibid., 143-148, onde são alistados mais de 40 freis, padres, bispos e cônegos que eram maçons; Samuel Nogueira Filho, Maçonaria, religião e simbolismo (São Paulo: Traço, 1984) 84-101, registra centenas de católicos (principalmente brasileiros) como maçons, incluindo os papas Benedito XIV (1742-1758) e Pio IX (que se tornou inimigo da Ordem), cardeais, arcebispos etc. - tudo isso com uma documentação escassa e, em parte, refutada por Kloppenburg, Maçonaria 110 Brasil, 264-266.
[l8]Veja David Gueiros Vieira, O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil (Brasília: Ed. da Univ. de Brasília, 1980), esp. 374-377 (com uma bibliografia extensiva); Lothar C. Hoch, ed., "Protestantismo, Liberalismo e Maçonaria no Brasil no Século XIX", Estudos Teológicos 27:3 (1987) 195-279; Jean Pierre Bastian, ed., "Liberalismo, masoneria y protestantismo en America Latina en el siglo XIX", Cristianismo y Sociedad 25:2 (1987) 9-108; e Jorge Buarque Lyra (30°), A Maçonaria e o Cristianismo (3ª  ed., Rio de Janeiro: Tupi, 1953) 290-292.
[19] A obra principal acerca dessa questão é o livro do Pr. Jorge Buarque Lyra, Maçonaria e o Cristianismo - veja as cartas introdutórias do Pr. Galdino Moreira, "Uma Obra Primorosa", 9-34, e do Pr. Arnaldo Cristinnni. "Terceiro Prefácio", 53-64. Veja também Zilmar de Paula Barros, A Maçonaria e o Livro Sagrado (2ª ed., Rio de Janeiro, Tupi, 1953) 290-292
[20]José Moita dos Reis Pessoa. As memórias [ou As Reminiscências] do Pr. Motta: Autobiografia (São Paulo: do autor, 1991) 36-39.
[21]Paulo Florêncio e Silva, em seu livro Maçonaria: Contra ou a favor? A Bíblia responde (Vitória, ES: do autor, c. 1987), documenta experiências e opiniões de líderes batistas, presbiterianos e anglicanos (com muitas abstenções) sobre a maçonaria, concluindo que "no pensamento batista [CBB] há muita confusão, mas ainda predomina em maioria incomparável o número daqueles que julgam a maçonaria como religião e por isso mesmo como anátema" (48); entre os Presbiterianos do Brasil e os anglicanos, "parece não existir qualquer preocupação quanto ao ser ou não ser maçom" (50). Obras evangélicas brasileiras contra a maçonaria incluem: Eduardo Carlos Pereira, A Maçonaria e a Igreja Cristã (4ª ed., São Paulo: Pendão Real, s. d.); Haroldo Reimer, Maçonaria. A resposta de uma carta (Ourinhos. SP: Ed. Cristãs, s. d.); Natanael Rinaldi, "Quem disse que um cristão pode ser maçom?" (São Paulo: do autor e do Instituto Cristão de Pesquisas, s. d.).
[22]Estatísticas sobre o número total de maçons no Brasil são difíceis. Kloppenburg, Maçonaria no Brasil, 5, estimou em 1956 cerca de 150.000 membros, um número reafirmado por Alberton, em 1983 - Benimelli, Maçonaria e Igreja Católica, 19.
[23]Marcus Achiles, “A maçonaria no poder", Manchete 2:124 (19 de dez. de 1992) 95; e "Presidente maçom", Ano Zero 2:18 (out. de 1992) 51.
[24]"Maçonaria não casa com ditadura", Ano Zero 2:18 (out. de 1992) 45.
[25]Alphonse Cerza, Let There Be Light: A Study in Anti-Masonry (Silver Springs, MD: Masonic Servic Assoc., 1983) 1.
[26] O termo landmark (marco) é usado pela literatura maçônica em português.
[27]K1oppenburg, Maçonaria no Brasil, 7, usa a Constituição do Grande Oriente do Brasil como uma de suas fontes principais. Existem muitas obras detalhando os rituais e as explicações normativas, tais como William Morgan, lllustrations of Masonry: By One of the Fraternity Who Has Devoted Thirty Years to the Subject (1827; nova ed., Chicago: Charles T, Power, 1886); esse autor foi sequestrado e morto, provavelmente por suas revelações. Veja também Jonathan Blanchard, Scottish Rite Masonry lllustrated: The Complete Ritual of the Ancient and Accepted Scottish Rite, Profusely lllustrated by a Sovereign Grand Commander (Chicago: Ezra A. Cook, 1915/1922), 2 vols.
[28]Ankerberg, Secret Teachings, 16-17. Calculando mais de 100.000 obras de literatura maçônica, ele documenta sua pesquisa com base em todas as lojas estaduais dos Estados Unidos (que consistem em 2/3 da população maçônica mundial). Henry Wilson Coil, Coil’s Masonic Encyclopedia (Richmond, V A: Macoy, 1961); Joseph Fort Newton, The Builders: A Story and Study of Freemasonry (Richmond: Macoy, 1951); Albert Gallatin Mackey, Mackey' Revised Encyclopedia of Freemasonry, ed. Robert I. Cleggs, 3 vols. (1ª ed., 1878; 2a ed., 1898; ed. rev. Richmond: Macoy, 1966). Outros livros de importância fundamental são: Malcolm C. Duncan, Duncans Masonic Ritual and Monitor (Chicago: Charles T. Power, 1974); Albert Pike, Morals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry (1ª ed., 1871; Charleston, NC: Supreme Council of the Thirty-Third Degree, 1950); Robert Macoy, A Dictionmy of Freemasonry: A Compendium of Masonic History, Symbolism, Rituals, Literature, and Myth (nova ed., Nova lorque: Bell, 1989); e Alec Mellor, Dicionnaire de la Franc-Maçonnerie et des Francs-Maçons (Paris: Pierre Belfond, 1971).
[29] Além dos livros já mencionados, veja as diversas obras de Jorge Adoum detalhando os graus da Ordem Maçônica Escocesa, publicadas pela Editora Pensamento (São Paulo); Nicola Aslan (33°), Factos da Maçonaria Brasileira (Rio de Janeiro: Aurora, s. d.); Aslan, Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia, 4 vols. (São Cristóvão, RJ: Aurora, 1974,1976); Joaquim Gervásio de Figueiredo (33°), Dicionário de Maçonaria (São Paulo: Pensamento, 1989), da Biblioteca Maçônica; Rizzardo da Camino (33°), Dicionário Maçônico (Rio de Janeiro: Aurora, 1990); Rizzardo, Introdução à Maçonaria, 3 vols. (Rio de Janeiro: Aurora, s. d.); etc. O fato de que, na década de 50, Kloppenburg, em A Maçonaria no Brasil, 7-9, conseguiu mais de 30 dentre as principais obras da maçonaria demonstra que os ensinos dessa sociedade encontram-se acessíveis para quem quiser. O presente autor reuniu cerca de 150 obras sobre a maçonaria.
[30] Veja Jack Harris, ex-Venerável Mestre, Freemasonry: The invisible Cult in Our Midst (Towson, MD: do autor, 1983); William Schnoebelen (ex-32°), Masonry: Beyond the Light (Chino, CA: Chick, 1991); James D. Shaw, (ex-33°), e Tom C. McKenney, The Deadly Deception (Lafayette, LA: Huntington House, 1988); "Freemasonry: From Darkness to Light?" documentário em vídeo (Estados Unidos: Jeremiah Films, 1991).
[31]"Maçonaria", em Ano Zero, 43. Ele continua: "... a Maçonaria nunca foi contra a Igreja, tendo em seu seio muitos irmãos católicos, inclusive eu".
[32]Aslan, Grande Dicionário, "Religião da Maçonaria", 4:951.
[33]William Alston, "Religion", Encyclopedia of Philosophy, ed. Paul Edwards (Nova Iorque: Collier/Macmillan, 1972), em Ankerberg, Secret Teachings, 37-38, 286.
[34]Ankerberg, Secret Teachings, 37-38.
[35]Mackey's Revised Encyclopedia, 2:847. Em "Creed, A Mason's, Mackey (2ª ed.), 192, destaca três artigos do credo maçônico: a fé em Deus Criador; a vida eterna, da qual esta existência é somente preparatória; e a ressurreição.
[36]Rizzardo da Camino, Dicionário Maçônico, "Religião",514.
[37]Gervásio de Figueiredo, Dicionário, "Maçonaria",231, citando W. L. Wilmshurst, The Meaning of Masonry (Nova Iorque: BelI, 1980) 21.
[38]Nogueira Filho, Maçonaria, Religião e Simbolismo, 27: "Tanto a Maçonaria como a Religião são constituídas de duas partes, uma esotérica e outra exotérica, ou melhor, uma iniciática, ou secreta, e outra profana, pública ou externa. Não se admirem, mas, inicialmente, Maçonaria e Religião eram uma e a mesma coisa".
[39]Macoy, Dictionary of Freemasonry, 324: "As ideias de Deus, retribuição, uma vida futura - estes grandes fatos da religião - não são propriedade de qualquer seita ou partido: constituem o fundamento de todos os credos. A religião, já dissemos, é eterna e imutável". Veja Kloppenburg, Maçonaria no Brasil, 153-197, cap. 7, "Os Princípios do Liberalismo Religioso na Maçonaria Brasileira".
[40]Winston W. Watts (32°), "Seek, and ye shall find", New Age Magazine 85:9 (set. de 1977) 53-54. Todas as seitas e religiões sub-cristãs fazem o mesmo.
[41]Nogueira Filho, Maçonaria, Religião e Simbolismo, 32; Mackey (2a ed.) 114.
[42]Coil's Masonic Encyclopedia, 520. Veja Mackey (2a ed.) 114; e R. Swinburne Clymer, Antiga Maçonaria Mistica Oriental. Ensinos, Regras, Leis e Atuais Costumes da Ordem (São Paulo: Pensamento, 1988) 98-99.
[43]Paula Barros, Livro Sagrado, 109. Ênfase do autor. O livro mais famoso de Barros, membro emérito do Supremo Conselho, é Painéis (Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista [JUERP], 1954).
[44]Martin L. Wagner, Freemasonry: An interpretation (s. ed, s. d.), citado em Ankerberg, Secret Teachings, 97, 294.
[45] Nicola Aslan, Comentários ao Ritual do Aprendiz-Maçom, Vade-Mécun Iniciático (Rio de Janeiro: Ed. Maçônica, 1990) 27; e Paula Barros, Livro Sagrado, 92-94.
[46] Alguns cabalistas rejeitam as formas maçônicas e "cristianizadas" da arte mística. Cf Scholem, Kabbalah (2a ed., Nova Iorque: MeridianlPenguin, 1978), 197-200; e Erich Bischoff, A Cabala: Uma Introdução ao Misticismo Judaico e Sua Doutrina Secreta, trad. por Alvaro Cabral (Rio de Janeiro: Campos, 1992).
[47] Constituição, Regulamento Geral, 39.
[48]Desagulliers, admite-se hoje, provavelmente foi o idealizador por trás do autor Anderson. Desagulliers não era ativo como pastor. Depois de uma vida de erudição e popularidade, ele morreu insano. Há histórias contraditórias quanto a Anderson ter se tornado, ou não, deísta e unitariano.
[49] Veja E. A. Coil, The Relalionship of the Liberal Churches and the Fraternal Orders (Filadélfia: David McKay. 1925).
[50] Gervásio de Figueiredo, Dicionário, "Religião", 388; veja "Deus", 125-126, onde ele concorda com Pitágoras e Cícero que "Deus é a alma de todos os corpos e o espírito do Universo”. Também Aslan, Grande Dicionário, 1:322.
[51]Mackey (2ª ed.), 315.
[52] Aslan, Ritual do Aprendiz-Maçom, 219.
[53]"Coils Masonic Encyclopedia, 516.
[54]"Schnoebelen, Beyond lhe Light, 53-59. Veja Stephen Knight, The Brotherhood: The Explosive Exposé of the Secret World of the Freemasons (Londres: Grenada/Panther, 1983), 243; Acker, Strange Altars, 32; Ankerberg, Secret Teachings, 119-125; e Êx 20.7; Gn 41.45, 50, 1Rs 16.32ss.
[55]Gervásio de Figueiredo, em Dicionário, "Abbadon", 14, e "Appolyon", 46, mostra-se claro (1) em sua definição dos nomes e (2) ao afirmar que estas palavras são sagradas nos ritos 17º e 46° (Rito de Mênfis) maçônicos. Schnoebelen, Beyond the Light, 59-62.
[56]Jorge Adoum, Do Mestre Secreto [4° grau] e Seus Mistérios (São Paulo: Pensamento, 1973) 44-51, 68-79. Seu tratado sobre a Trindade como sendo um símbolo da energia psicossomática trina conclui assim: "A palavra sagrada AUM [Om] dos orientais tem as iniciais sagradas da Trindade. A palavra AMÉM dos ocidentais encerra a mesma Trindade". Uma perspectiva evidentemente gnóstica da Trindade é encontrada no ritual oficial do 32° Grau "The Royal Secret", Readings XXXII, (Rito Escocês, s. d.), 117-138.
[57]Pike, Morais and Dogma, 206-209, 224-229, 552s., 574: "Eis A VERDADE.IRA TRINDADE MAÇÔNICA; a ALMA UNIVERSAL; o PENSAMENTO na Alma, a PALAVRA, ou Pensamento expresso; os TRÊS EM UM, de um Escocês Trinitário" (575; ênfases do autor).
[58]Morey, Origins and Teaching, 114-116.
[59] Mackey (2a ed.), 186-187, 271; Alva J. McClain, Freemasonry and Christianity (Winonn Lake, IN: BMH Books, 1969) 22-23.
[60] Mackey (2a ed.) 143. Itálico meu. No Brasil, esses calendários, inclusive os dos ritos nacionais, são explicados em Aslan, Grande Dicionário, 1:195-197.
[61] Rizzardo da Camino, Dicionário Maçônico, "Cristo", 179; cf. Adoum, Do Mestre Segredo, 44-51.
[62] Pike, Morals and Dogma, 525. Não surpreende que Pike interprete a morte de Jesus como um martírio para o evangelho de amor (310), e que, das 9 vezes em que menciona Jesus (Zoroastro, 26 vezes), quase todas são interpretações gnósticas e pagãs, sem nenhuma verdade bíblica sobre o Redentor. Veja também Clymer, Antiga Maçonaria Mística Oriental, 94-95; e Henry Clausen (33°), Practice and Procedure for the Scottish Rite (Washington D.C. : The Supreme Council, 33° Grau, 1981) 75-77; etc.
[63] Shaw, Deadly Deception, 105-108; cf. Paula Barros, Livro Sagrado, 86.
[64] Shaw, Deadly Deception, 106-108.
[65] Os rituais da Loja Azul são divulgados e explicados em várias obras: Aslan, Ritual do Aprendiz-Maçom, 1-348, cf. 66-69; Harris, Freemasonry, 31-55. Enquanto as palavras do primeiro grau variam um pouco, a venda sobre os olhos do candidato e a interpretação do rito são essencialmente iguais.
[66] Aslan, Ritual do Aprendiz-Maçom, 164. Rizzardo da Camino, Dicionário Maçônico, "Pedra Cúbica Piramidal", 470, diz: "O Cubo desdobrando-se espontaneamente, simbolizando a crucifixão de todos os seus aspectos negativos".
[67] Paula Barros, Livro Sagrado, 106.
[68] Veja Ankcrberg, Secret Teachings, 139-154.
[69] J. S. M. Ward, Freemasonry: Its Aims and Ideals, 187, citado em Christ or the Lodge,18.
[70] Aslan, Grande Dicionário, "Regeneração", 4:944, citando diretamente, e co aprovação, Mackey (2ª ed.), "Regeneration", 637.
[71] Rizzardo da Camino, Dicionário Maçônico, "Regeneração", 512.
[72] Pike, Morals and Dogma, 853-854 (itálicos meus).
[73] Gervásio de Figueiredo, Dicionário, "Deus", 124.
[74] E. A. Coil, Relationship of the Liberal Churches and the Fraternal Orders, 10-11. Como pastor unitariano, ele defende que o antigo liberalismo (séc. XIX) e a maçonaria propõem o mesmo. Veja Baptists and Freemasonry, 6; Ankerberg, Secret Teachings, 133-152; Christ or the Lodge?, 16-20; Ketcham, Chrislian and lhe Lodge, 5-12; McClain, Freemasonry and Christianity, 27-29; Rongstad, How to Respond, 16-19; e Schnoebelen, Beyond lhe Light, 75-88.
[75] Constituição, Regulamento Geral, 39.
[76] Veja John H. Hessey, Bruce H. McDonald e William F. Peltz, Masonic Burial Service. Masonic Memorial Service (Baltimore, MD: Harry S. Scott, 1960); Pike, Morals and Dogma, 855; Harris, Freemasonry, 134-136; Rongstad, Christ or The Lodge, 17-19. Usurpando textos bíblicos, frequentemente cita-se Apocalipse 3.5: "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas..." em Paula Barros, Livro Sagrado, 67.
[77] Shaw, Deadly Deception, 114, afirma que as cerimônias fúnebres são essencialmente iguais às da ciência cristã.
[78] Veja Ankerberg, Secret Teachings, 153-160.
[79] Mackey (2ª ed.), "Proselytism", 613, cf 162-163; e Rizzardo da Camino, Dicionário Maçônico, "Proselitismo", 490-491: "Somente os predestinados" entram e permanecem na Ordem.
[80] Florêncio e Silva, Maçonaria: Contra ou a favor?, 48.
[81] Veja as notas de rodapé 19 e 20; Mackey (2ª ed.), 162-163; e Gervásio de Figueiredo, Dicionário, onde, entre as 20 formas de maçonaria, ele define a maçonaria evangélica assim: “É a que tem por escopo propagar o Evangelho cristão por meio de simbologia maçônica ou inversamente, as verdades maçônicas revestidas de alegorias evangélicas” (233).
[82] Ankerberg, Secret Teachings, 215.
[83] Knight, The Brotherhood, 243, a melhor pesquisa secular sobre a maçonaria.
[84] Ritual e Instruções do Aprendiz-Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito
(São Paulo: Grande Oriente de São Paulo, abril de 1984) 99.
[85] Shaw, Deadly Deception, 104.
[86] William J. Whalen, Handbook of Secret Organizations (Milwaukee: Bruce, 1966) 2. Até cerca de 1900, a igreja mórmon utilizou vários ritos da maçonaria, assim como ainda hoje o fazem determinadas seitas satânicas. Veja o documentário em vídeo intitulado “Freemasonry: From Darkness to Light?", op. cit.; e David John Buerger, "The Development of the Mormon Temple Endowment Ceremony", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 20 (dez. de 1987) 33-76, que documenta a participação de Joseph e Hyrum Smith na maçonaria. Young declarou: "Nós temos a verdadeira maçonaria" (46).
[87] Wagner, Freemasonry: An Interpretation, 142-143, citado em Ankerberg, Secret Teaching, 258-259. Veja também Manly P. Hall (33°), The Lost Keys of Freemasonry or The Secret of Hiram Abiff (Richmond, VA: Macoy, 1976) 69; e Pike, Morals and Dogma, 819: “…[o iniciado] é deliberadamente enganado por interpretações falsas. A intenção não e que ele as entenda, mas sim que pense que as compreende".
[88]Sobre a perversão da democracia e da justiça pela maçonaria, veja Kloppenburg, A Maçonaria no Brasil, 242-251; Nesta H. Webster, Secret Societies and Subversive Movements, (ed. orig. 1924; nova ed. s. loc., Christian Book Club of America, s. d.): e Paul Goodman, Towards a Christian Republic: Antimasonry and the Great Transition in New Egland, 1826-1836 (Oxford: Univ. of Oxford, 1988).
[89] Morey, Origens and Teaching, 74. Morey ignora em grande parte a maçonaria francesa e o cabalismo, que certamente influenciaram o pensamento desde o começo da maçonaria especulativa.
[90] lbid., 75-77; "... mais de 3.000 diferentes graus maçônicos e 800 símbolos maçônicos foram introduzidos em algum momento"(76).
[91] Pike, Morals and Dogma, 102, 321, 324, 859; Hall, Lost Keys of Masonry, 48.
[92] Pike, Morals and Dogma, 626, 745, 859.
[93] H. V. B. Voorhis, Facts for Freemasons: A Storehouse of Masonic Knowledge in Question and Answer Form (ed. rev., Richmond: Macoy, 1971) 6,227, citado em Ankerberg, Secret Teachings, 227.
[94] Henry C. Clausen, Clausen's Commentaries on Morals and Dogma (Charleston, SC: Conselho Supremo, 33° Grau, Jurisdição Meridional, 1976) 157-158, 172ss.
[95] Além dos dicionários, veja: H. P. Blavatsky, As Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria, trad. por Dulce do Amaral (São Paulo: Pensamento, 1991); Mario Leal Bacelar (33°), Espiritualização da Maçonaria (2a ed., Rio de Janeiro: Mandarino, s. d.), na Coleção Maçonaria Universal; R. A. Gilbert, ed., Maçonaria e Magia, trad. por Joaquim Palácios (São Paulo: Pensamento, 1990); Isabel Cooper-Oakley, Maçonaria e Misticismo Medieval, trad. por Y. S. Toledo (São Paulo: Pensamento, 1988); C. W. Leadbeater A vida oculta na maçonaria, trad. por J. Gervásio de Figueiredo (São Paulo: Pensamento, 1988), Clymer, Antiga Maçonaria mística oriental; Nogueira Filho, Maçonaria, Religião e Simbolismo. Paula Barros, Maçonaria e o Livro Sagrado; etc.
[96]Decker, Question of Freemasonry, 13-37, apesar de ser sensacionalista em sua apresentação, detalha os significados pagãos de diversos símbolos maçônicos.
[97] Baptists and Freemasonry, 7; Ankerberg, Secret Teachings, 224-230.
[98] Ankerberg, Secret Teachings, 224-230.
[99] Knight, The Brotherhood, 244.
[100] Ibid., 242.
[101] Rosemary EIIen Guiley, Harper’s Encyclopedia of Mystical and Paranormal Experience (São Francisco: Harper/CoIlins, 1991), “Freemasonry", 219.
[102] Uma das ironias mais lastimáveis é que os mesmos líderes denominacionais que recusam fraternidade e cooperação com outros irmãos evangélicos em Cristo vão à loja maçônica e confraternizam com não cristãos de todos os tipos. Kloppenburg, A Maçonaria no Brasil, 259s., tem toda razão ao se arrepiar com as histórias sobre os elos entre evangélicos e a loja contra o inimigo católico.
[103] McClain, Freemasonry and Christianity, 32.

NOTA DO BLOG: Este trabalho nos foi enviado por Wagner Pinheiro de Carvalho, em 05 de Outubro de 2005. Encontrando-o nos meus guardados e julgando-o ainda bastante esclarecedor resolvi partilhá-lo aqui no Blog. Os que desejarem ler o original publicado na revista “Vox Scripturae” poderão baixa-lo em PDF  no seguinte: http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_rokdownloads&view=file&Itemid=138&id=215:maconariascotthorrell